segunda-feira, 1 de junho de 2009

justiça alguma


Nasce-se de uma vontade humana; morre-se incondicionalmente do mesmo incógnito impositivo. Não há justiça alguma no ápice dos eventos.


A flor da indigência


nu o sexo e o ilíaco exposto
divido a morte com o morto

nas alegrias particulares
o indigente não descansa mais

adormece, pueril e belo
braços quebrados sobre a cabeça

nos olhos duas meninas mortas
incompleto o último pensamento

da beleza mutável do rosto
resta boca adentro o espanto

em silêncio entrega às moscas
o peso bruto do ser e o grito

crianças ao pé do corpo
da indigência cultivam a flor




Transcrevo o 9° poema de
O caçador de vaga-lumes, publicado em 1998, graças a um amigo. Ainda hoje vejo nesse conjunto os fragmentos de um projeto maior que não chegou a se cumprir. Depois de escrever durante cinco anos, fui cortanto e cortando até chegar a pouco mais de 300 versos - que eu diminuiria ainda mais caso o livro fosse reeditado.

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