sexta-feira, 16 de abril de 2010

Insignificâncias


Esses estudos acabam descartados com o tempo, ou ficam por aí, pelos cantos do ateliê, empoeirados. Preparava uma série de desenhos para um livro do Chico dos Bonecos, descartei um recorte, que depois retomei, por brincadeira. Coloquei um papel de seda vermelho, no fundo, desses que se usam para fazer pipas e balões. Prendi tudo numa placa de isopor como suporte, usando pequenos pregos. Agora ele descansa sobre um balcão, no primeiro piso, entre outros objetos heteróclitos.
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Gosto da idéia de que a identidade é construída também dessas insignificâncias, desses descartes, desses desperdícios. Quanto aos atos heróicos, me nego a vê-los sem as lentes do riso, às vezes mesmo da ironia. Desconfio deles. Sempre preferi a alegria à tragicidade, o primeiro traço ao desenho pronto, a hesitação do que está por nascer ao bem composto, ao aprumado. As insignificâncias de um dia ensolarado - como o de hoje - dizem mais do que toda uma vida de compostura.
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2 comentários:

aveloh disse...

Tenho uma exacerbada paixão pelas insignificâncias e gosto muito dessas suas idéias, principalmente às que se referem à desconfiança dos atos heróicos, o encanto do primeiro traço e a hesitação do que está por nascer.
abração

carlos dala stella disse...

Por isso preferimos a alegria, anti-dramática, anti-heróica, a favor da vida, não contra.

abraço amigo