segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Gato Sem Nome

camada espessa de silêncio
emudece a manhã.
os significados se foram
apenas os olhos, sonolentos, beijam
com delicado ardor o que vêem.

se ao menos chovesse
a manhã fosse mais longa
o laranja dos hibiscos
incendiasse meu dia.

o sexo em mim avulta
todo desejo e manipulação.

nu, no ateliê, tateio
a superfície sonora do mundo:
relógio, passarinhos, vozes
esses eternos motores.

(clique na imagem para ampliá-la)

Poema e desenho de um de meus cadernos de ateliê, usados no livro O Gato sem Nome. Nesses cadernos escrevo e desenho quase diariamente. Iniciei o primeiro quanto tinha 18 anos, escrevendo sobretudo poemas. Hoje são mais de 10 mil páginas. Aos poucos o texto foi dando lugar ao desenho, às colagens, aos recortes. Meus cadernos agora são híbridos. Eles são a expressão de minha indentidade menos arranjada, por isso mais íntima.

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4 comentários:

aveloh disse...

O desenho está demais, o poema não sei, porque mesmo ampliando não dá para ler (que tal transcrever?), mas o de que mais gosto é o caderno em si: adoro a idéia do objeto que contém uma revelação, e esses teus cadernos nem imagino quantas devem conter (uma preciosidade). Esse daí está muito muito bonito.

carlos dala stella disse...

Esses cadernos, é neles que me esvazio de mim. Penso tanto em Hokusai, o louco por desenho. Acho que temos irmãos em outros tempos, em outros lugares, embora não tenha havido a coincidência genética.

Obrigadobrigado

Zaclis Veiga disse...

sabe que inspirada nos teus comecei um meu!? Claro que é uma coisinha de nada, um rabisco do que gostaria de ser.
;)

carlos dala stella disse...

Esses cadernos, Zaclis, um dia eles ainda serão confundidos com nossa digital.