segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A bicicletinha que faltava



Amo tanto o desenho que várias vezes fico tentado a parar uma tela apenas esboçada. O esboço à carvão, suas nuances sutis, mas especialmente a qualidade aveludada do preto, exercem sobre mim um fascínio infantil. Adoro sujar as mãos com suas micropartículas discretamente brilhantes. Preciso cheirar os palitos de carvão antes de usá-los, assim como faço com o Conté, com os lápis aquarelados, meus preferidos, e com os grafites mais doces.
O mesmo hábito possuo com os livros. Cheiro-os discretamente, para que ninguém me flagre nesse gesto íntimo. Possuo até hoje o livro que comprei na adolescência e que considero o mais cheiroso, ou floral, de todos: Deus no Pasto, de Hermilo Borba Filho. De tempos em tempos tiro-o das estantes, fecho os olhos e inspiro, inspiro animado não sei por que gratuido e sincero prazer.
(clique na imagem para ampliá-la).

Essa tela, inspirada na Bicicletinha que Faltava, incluída na segunda edição do livro Bicicletas de Montreal, foi uma encomenda de Cristóvão Tezza - cujo site está ilustrado por uma série de retratos que fiz dele. Apesar de ter tomado a bicicleta como tema para um conjunto de meus desenhos, só fiz duas pinturas delas - esta a segunda. Nem antes, nem agora fiz mais do que tomar a bicicleta como pretexto gráfico. É à complexidade gráfica, quase poética, de canos e raios, fios e rodas, que meus olhos se voltam quando veem uma bicicleta qualquer.
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2 comentários:

Zaclis Veiga disse...

Querido amigo,
estava com saudade de passear por aqui e respirar a beleza de tuas imagens e palavras.
beijo

carlos dala stella disse...

Passeie, Zaclis, passeie.
É com prazer que te recebo por aqui. Beijo do
crls