sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Simone Spoladore

Fiz essa pequena entrevista em 2001, durante o Festival de Cinema de Montreal, um dia depois da estréia do longa Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho, elogiadíssimo na ocasião por Bernardo Bertolucci. Ela foi publicada parcialmente no jornal Gazeta do Povo, no mesmo ano em que Simone Spoladore se tornava nacionalmente conhecida por sua brilhante atuação na série Os Maias, do mesmo diretor de Lavoura.


Como foi compor a Ana, esse personagem central na trama do filme?
A gente trabalhou muito e buscou mesmo essa expressividade da Ana em todos os movimentos. Eu fiquei muito tempo ensaiando a dança do ventre em São Paulo, durante seis meses trabalhando exaustivamente, pra buscar a linguagem dela, essa linguagem corporal e sensível também. Engraçado, eu fiquei muito surpresa também quando vi agora o filme. Acho que eu já mudei daquele tempo pra cá, fisicamente mudei, já estou diferente.

E a mudez da Ana? Ela não fala praticamente nada desde o início do filme até a cena final da dança.
A Ana fica sem falar mas é muito forte o que ela tem a dizer. A dança é na verdade o grito dela. O encontro amoroso dela com o irmão é de uma força tão grande que ela se transforma. No momento em que ele está na pensão ela está ali naquela fazenda se revirando também. É nesse momento que ela mostra isso, o quanto ela está revirada internamente por ele. O amor entre eles é transformador, eu acho mesmo.

Desde o início você sentiu a densidade do texto do Raduan Nassar?
Claro. A primeira vez que eu li o livro, falei: eu quero fazer a Ana, eu posso fazer a Ana. Eu me identifiquei muito com o personagem. Aí quando fiquei sabendo que estavam sendo realizados os testes pro filme, fui lá levar o currículo. Setecentas pessoas fizeram o teste, eu fui uma delas.

Só depois do filme do Luiz Fernando você foi pra televisão?
A primeira vez que eu fiz televisão foi n'Os Maias. Depois que acabou o filme, em 1998, me chamaram pra fazer testes pra novelas e eu não quis fazer, não fui nem fazer os testes, porque eu estava em Curitiba ainda e porque o Lavoura foi um trabalho forte, muito importante pra todos nós. Eu fiquei  em Curitiba, continuei estudando teatro. Comecei fazendo dança, na verdade, depois teatro. E não quis fazer as novelas justamente porque o Luiz queria muito que a Ana fosse uma atriz desconhecida. Por isso eu me preservei também. Eu achava que não devia abrir mão disso pro filme. Tanto que eu fui fazer Os Maias só porque era o Luiz Fernando que dirigia. E porque o personagem era maravilhoso. Fiquei muito apaixonada pelo personagem. Aí fiz os testes, a gente conversou e ele falou que ia mudar tudo na Maria Monforte pra Ana(personagemm do Lavoura) ficar nova ainda. Tanto que eu me surpreendi vendo a Ana, depois de ter visto a Maria Monforte, que eu acabei de fazer. Elas são completamente diferentes, por isso fiquei muito contente.

Mas voltando ao Lavoura...
A gente ficou dois meses na fazenda mergulhando nesse universo do Raduan e acho que ninguém saiu impune de ter feito o Lavoura. Todos os atores, mesmo o Raul, mesmo a Juliana, acho que tiveram muitos questionamentos sobre tudo, sobre a vida, o trabalho. Claro que pra mim, que estou no início da minha carreira, foi uma experiência de formação.

Como é ser dirigido pelo Luiz Fernando Carvalho?
Ele é generoso, ele trabalha com amor, trabalha com afeto, trabalha com doação. Ele foi maravilhoso.



Um comentário:

Unknown disse...

Podemos ver uma homenagem ao cinema brasileiro na série Magnifica 70, O elenco parece grande, Marcos Winter, Simone Spoladore, Adriano Garib, Joana Fromm, entre outros. o que nos coloca precisamente na década de 70 em São Paulo, em um momento difícil para o país com uma ditadura militar e filme censurado, onde ele não poderia falar sobre a sexualidade ou crítica governo. Na série, o protagonista, Vicente, trabalha dando relatórios têm de censurar filmes. Admiração e fascínio por um protagonista desses filmes leva a Boca de Lixio para trabalhar como director no lindo produtor de Maginfica cinematografica, uma atmosfera de desejo e proibição.