sexta-feira, 9 de setembro de 2011

sobre os desenhos do livro QUER JOGAR?








































UM

QUER JOGAR? é o segundo conjunto de variações que publico. O primeiro foi BICICLETAS DE MONTREAL. O conjunto temático agora é mais aberto, brinquedos e jogos. Na superfície, é isso, a ilustração de brincadeiras, de crianças brincando, mas nunca o desenho se restringe à narração de uma cena. O que me interessa, depois de satisfazer essa necessidade de compor com o texto uma unidade, é a linha, a vivacidade da linha. E da cor. Linha e cor têm que ser capazes de reinventar o mundo, mas o mais abstratamente possível. O que me interessa é a alegria de desenhar, a alegria que quando desenho é maior que tudo, que todas as demandas.

DOIS

É sempre assim, primeiro satisfaço a demanda, mas no caminho o desenho abre perspectivas e eu me solto nelas. Experimento. Brinco. Desenhar QUER JOGAR? foi uma descoberta, a de que o arco temático pode ser muito aberto, o que costura um a um os desenhos é a personalidade da linha, resultado de um conjunto de procedimentos particulares.

TRÊS

Várias vezes me antecipei, desenhando o que ainda não tinha sido escrito. Isso me permitiu incluir temas particulares, como o desenho da raia bidê. Lembro das painas, do papel de seda, da cola de farinha, mas principalmente da tensão do fio na mão, ao empiná-la no céu azul.

QUATRO

Esse é um livro em contraponto. Há nele duas linhas melódicas que não param de se entrelaçar, o texto e os desenhos. Ora o texto se sobrepõe aos desenhos, ora os desenhos se sobrepõem ao texto, mas sempre atentos um ao movimento do outro. O livro é o resultado dessa dança entre texto e imagem, das sutilizes dessa dança, da desenvoltura com que ela se dá. Várias vezes texto e imagem brincam entre si. O livro está cheio desses pequenos segredos.

CINCO

Os desenhos guardam pequenos segredos, como as referências a desenhistas que admiro. Estão lá os grafismos inspirados em Paul Klee, a linha remendada de George Grosz, o mar desenhado a la Hokusai, o barco imaginário emprestando a linha incisiva de Poty, a desenvoltura limpa do traço de Matisse...

SEIS

Muitos desses desenhos foram feitos em camadas, como acontece frequentemente na pintura. Fui somando materiais, acrílica, lápis de cor, carvão, grafite, colagem, canetas de tinta refletiva, corretivo. O resultado muitas vezes mal podia ser entrevisto no início. Me entreguei ao fluxo, movido pelo prazer de fazer pequenas descobertas, até a descoberta final. Porque um bom desenho é sempre uma descoberta, ou não é um bom desenho.

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