terça-feira, 25 de outubro de 2011

Eugenio Montale



Depois de semanas tentando verter para o português um poema de Eugenio Montale, cheguei a esta versão, provisória ainda, mas que dá ideia de um tema que me é muito caro: a rarefação, aquele momento em que os sentidos do mundo são suspensos e quando por isso mesmo somos obrigados a inventar um novo olhar, uma nova compreensão, para não sucumbirmos ao súbito vácuo, que pelo menos como pressentimento poderia nos inviabilizar, reduzindo-nos a nulidades de fracasso. O resultado é que podemos sair mais ricos exatamente daquilo que nos foi tirado.



Tiro em pleno vôo


Perguntas por que navego
na incerteza ao invés de singrar
outros mares? Pergunte
ao passarinho que voa livre
por que o tiro vai longe
e se abre em rosácea a rajada?

Mesmo nós não alados
somos atingidos por rarefações
não com chumbo, mas com atos
não em pleno vôo, mas nos átrios
Se por um átimo o chão nos falta
talvez estejamos salvos.


Il tiro a volo


Mi chiedi perché navigo
nell’insicurezza e non tento
un’altra rotta? Domandalo
all’uccello che vola illeso
perché il tiro era lungo e troppo larga
la rosa della botta.

Anche per noi non alati
esistono rarefazioni
non più di piombo ma di atti,
non più di atmosfera ma di urti.
Se ci salva una perdita di peso
è da vedersi.


Tradução de Carlos Dala Stella

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