terça-feira, 2 de abril de 2013

Eugenio Montale / 5


Ser como a pinha
desfolhada dos pinhões
enfim entregue à neutralidade
das cascas falhas
sem equívoco de identidade. 

Boa para o fogo
que tudo consome com sofreguidão.
Sem saber nadica de nada
do vasto e vão
mundico de si mesma.


Acordei madrugada adentro, absolutamente siderado pelo silêncio da noite e - depois de dar volta ao mundo, sem sair do quarto - abri Eugenio Montale justo no antepenúltimo poema de seu último livro, Quaderno di quattro anni. Li, reli, tresli. Impossível abrir aquela cápsula viva de significado sem desmontá-la irremediavelmente. E então, como resultado desse esforço, a transubstanciação feito poema me veio. Mas também como resultado de uma vida inteira de involuntária e contínua desidentificação. Transcrevo aqui ambos os poemas.


Spenta l'identità
si può essere vivi
nella neutralità
della pigna svuotata dei pinòli
e ignara che l'attende il forno.
Attenderà forse giorno dopo giorno
senza sapere di essere se stessa.

Eugenio Montale

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