sexta-feira, 25 de abril de 2014

Eugenio Montale / 9

AMIGOS


Não caiam nessa de anos-luz
de tempo-espaço curvo ou plano.
A verdade nada em nossas mãos
mas como fisgar a viscosa enguia
se nem os mortos o conseguiram?
Talvez para não repetir a sina
difícil e inútil dos vivos.



Amici, non credete agli anni-luce
al tempo e allo spazio curvo o piatto.
La verità è nelle nostre mani
ma è inafferrabile e sguiscia come un’anguilla.
Neppure i morti l’hanno mai compresa
per non ricadere tra i viventi, là
dove tutto è difficile, tutto è inutile.


Poema de Eugenio Montale, Altri Versi
Tradução de Carlos Dala Stella

Algumas raras entrevistas com Eugenio Montale foram disponibilizadas na internet nos últimos anos. Em todas o poeta conjuga lucidez, concisão e ironia, sem nenhuma pose. Às vezes ele parece dialogar com sua posteridade, tratando de questões ainda hoje tão mal resolvidas, como a distinção entre poesia e prosa, encalhada há décadas na disneylândia do dialogismo da linguagem. Vale a pena conferir. 
 

terça-feira, 22 de abril de 2014

Eugenio Montale / 8

A VERDADE


A verdade rói como traças e ratos
está no pó das gavetas cheias de mofo
na casca seca do grão. 
A verdade é sedimento, estagnação
nunca a logorreia insulsa dos dialéticos. 
É teia de aranha, durável
até que você passa a vassoura.
Blefam os escoliastas dizendo que tudo
está em movimento. Faz água 
por todos os lados a ideia de que depois 
do antes sempre vem um depois. 
Sorte do néscio que não embarca nessa. 
Vivemos melhor sem eles, ou talvez pior
mas recobramos o fôlego.



LA VERITÀ



La verità è nei rosicchiamenti
delle tarme e dei topi,
nella polvere ch'esce da cassettoni ammuffiti
e nelle croste dei 'grana' stagionati.
La verità è la sedimentazione, il ristagno,
non la logorrea schifa dei dialettici.
È una tela di ragno, può durare,
non distruggerla con la scopa.
È beffa di scoliasti l'idea che tutto si muova,
l'idea che dopo un prima viene un dopo
fa acqua da tutte le parti. Salutiamo
gli inetti che non s'imbarcano. Si starà meglio
senza di loro, si starà anche peggio 
ma si tirerà il fiato.


Poema de Eugenio Montale, Quaderno di quattro anni
tradução de Carlos Dala Stella

segunda-feira, 14 de abril de 2014


VEREDITO


deu na gazeta de hoje: o assassino
de Wilson Bueno foi absolvido
por 4 votos a 3 e não cabe recurso
Wilson Bueno foi três vezes
condenado: por Cleverson Schmitt
autor da facadafatal no pescoço
pelo tribunal do júri e pelo silêncio
conivente da mídia local
é a regra: o poder instituído não
tolera a rosa em botão do homem


poema inédito de Dala Stella