segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Seamus Heaney



UM ARTISTA


Adoro o cismar de sua ira. 
A obstinação contra a pedra, a tensão
sobre a carnadura das maçãs verdes. 

Como ele se fazia de cachorro, latindo
para a imagem rosnenta de si mesmo.
E o ódio à própria ideia do trabalho
como única coisa que funcionava - 
a vulgaridade de se submeter sempre
ao reconhecimento e à admiração
consentindo em ser roubado. 

Como atuava sua força, adensada
porque agir era sua sabedoria. 
Sua testa à mostra como bola 
de bocha atravessando o espaço virgem
atrás da maçã e da montanha. 


Tradução de Carlos Dala Stella

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An Artist


I love the thought of his anger.
His obstinacy against the rock, his coercion
of the substance from green apples.
The way he was a dog barking
at the image of himself barking.
And his hatred of his own embrace
of working as the only thing that worked –
the vulgarity of expecting ever
gratitude or admiration, which
would mean a stealing from him.

The way his fortitude held and hardened
because he did what he knew.
His forehead like a hurled boule
travelling unpainted space
behind the apple and behind the mountain.

Seamus Heaney

Cézanne, Mont Sainte-Victoire