domingo, 30 de maio de 2010
segunda-feira, 24 de maio de 2010
quinta-feira, 20 de maio de 2010
O Grito e O Riso
(clique na imagem para ampliá-la)
Esta é mais um dos exercícios de meus cadernos de ateliê, feito a partir de um dos tantos convites de exposições que recebo. Se não me engano era uma exposição de Franz Krajcberg.
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Esses convites, que vão se acumulando pela casa e pelo ateliê, eu os vejo com intenção dupla: como matéria para colagens e como fonte de riso, já que a maioria deles vem acompanhada de textos os mais idiotas possíveis.
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Toda vez que leio textos de convites e catálogos, me pergunto como poderá tanta tolice ter se concentrado em torno do mundo das artes, especialmente das artes plásticas. Quando não são os especialistas, são os próprios artistas que disparam frases sem sentido para todos os lados, animados quase sempre pela crença fanática no sempiterno Conceito.
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O que me surpreende é o esforço enorme, visível em cada torneiro de frase, para conceber um texto tão vazio de significado, tão oco, tão nulo. Como não rir quando o autor dessas obras primas, além de expor publicamente seu nome, acrescenta a associação internacional de críticos de arte da qual faz parte, ou os prêmios que eventualmente tenha ganho, ou os cargos que exerceu?
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Prefiro mil vezes a pobreza desamparada da obra por si mesma.
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terça-feira, 18 de maio de 2010
Perdido Beco sem Saída
Uma marca da genialidade de alguns raros escritores é a capacidade de definir uma situação com apenas algumas palavras. Enquanto a maioria deles precisa de páginas e mais páginas para “debruçar-se sobre a alma humana”, como se diz, alguns poucos descobriram como fazê-lo com não mais do que meia dúzia de palavras. Com uma pincelada rápida a situação está armada, e o leitor se sente um refém do texto.
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Mas é um engano ver pressa e brusquidão num gesto longamente construído. A escrita, para esses escritores obstinados e rigorosos, é tratada com minúcia de botânico. Em suas mãos a linguagem aparenta-se com a flor. É um erro grosseiro ver tosquidão onde há delicadeza e dedicação.
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Um exemplo extremo dessa habilidade, em grande parte sintática, de incluir doses maciças de contexto em textos curtíssimos é Dalton Trevisan. Vinte ou trinta palavras são suficientes para evocar um mundo. Um mundo que surpreendentemente nos inclui, por mais desumano que pareça, por mais saudoso do passado que possa enganosamente parecer. Várias vezes lendo seus contos, ou poemas, me pergunto: quanto esforço terá sido necessário para fazer desse território comum que é a linguagem uma terra particular? Qual foi a paga para esse domínio inquestionável?
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A evocação a Curitiba, à qual o autor se autocondenou, ou ao seu vampirismo, podem não ser pistas falsas, mas ajudam muito pouco a compreender como ele chegou a esse uso a um só tempo rigoroso e poético da linguagem. Sim, porque é inegável que há poesia em tudo o que ele vem escrevendo, mas poesia que corta, que machuca o leitor. Ou, pior, uma poesia que chega ao limite de fundir ternura e sangue, como no conto do desequilibrado que mata meninos depois de molestá-los sexualmente, para enviar os anjinhos para o céu. Por alguns segundos o juízo é suspenso, e nos vemos feitos da mesma matéria de que são feitos esses personagens “desumanos” que certa crítica insiste em restringir à classe média baixa, quando não ao passado, erro ainda mais grosseiro.
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Naturalmente essa poesia pouco ou nada tem a ver com a poesia produzida pelos poetas brasileiros contemporâneos. Ela caminha na mão inversa de toda sorte de pirotecnias da poesia que se quer eternamente de vanguarda, assim como do sentimentalismo piegas dos versejadores de província. A poesia de Dalton, por uma ilusão de ótica, parece pertencer às coisas elas mesmas, como um atributo natural do homem. Mas quando pede para que ouçamos o canto que a casca vazia da cigarra no tronco da árvore evoca, é dele que vem o canto da cigarra retirada de lá antes mesmo que pudéssemos vê-la. E esses pequenos diálogos em que apenas um fala, embora sintamos a presença incontestável do outro, sinalizada minimamente pelo travessão e pelas reticências? É essa capacidade de animar o mínimo, de recolher os gestos que cotidianamente são desprezados como insignificantes ou condenados como vergonhosos, é esse procedimento, entre outros, que dá a cada um dos seus ais um vigor poético incomum.
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Esse domínio da arte de escrever, melhor, da arte de trazer o mundo para o que se escreve, é tão cristalino em Dalton que mesmo a atitude mais vil de seus personagens está carregada de um vigor positivo tão grande que somos levados a rever nossos parâmetros éticos, aceitando como humano gestos que prefeririamos atribuir aos animais. E aí entra outro ingrediente da poética do autor, poucas vezes percebido, através do qual o que é torpe, sujo e feio revela certa beleza, passando a ser aceito como parte do que somos: o humor. Como não rir quando a mulher reclama, ao final de um diálogo erótico, que o parceiro instruído por ela esqueceu, mais uma vez, de usar o chicotinho? Ou ainda, quando a mulher põe fim à enfiada de palavrões com que o marido a assedia: “Sou cadelinha. Sou putinha. Só me deixa pregar o botão nesta camisa. E daí sou tudo o que quiser.” Esse humor encapsulado é explorado em uma série de nuances, às vezes corrosivo, às vezes recatado, às vezes mesmo terno.
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Em outro de seus poemas, depois de comparar Guido Viaro a uma rua barulhenta de Curitiba e Poty à praça Tiradentes às cinco da tarde, Dalton diz de si mesmo: “E eu, mal de mim, esse perdido beco sem saída atrás da Catedral”. Embora trechos como esse possam ser tomados como confirmação de que o autor é um refém de si mesmo, como se diz repetidamente, prefiro ver nele a constatação de uma outra verdade. Para além do fato de que são reféns de si mesmos todos os escritores ou artistas que com sua obra deram significado ao nome que receberam, fica evidente aqui a coragem de fazer um auto-retrato sem pompa, sem adereço, que exclua todo o supérfluo.
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Se Viaro é uma rua barulhenta, onde todos se cruzam mas ninguém conhece ninguém, se Poty é uma praça, local de encontro de toda a fauna humana, ele, Dalton é um beco sem saída, onde se está irremediavelmente só, local onde os vampiros se escondem, poderíamos dizer. Mas não estamos falando de um vampiro, senão de um homem que laboriosamente foi construindo um conjunto de dutos e veias por onde circula seu sangue. O beco de Dalton, esse uso idiossincrático da linguagem, mais do que um não à metrópole curitibana, me faz pensar nos becos de Manuel Bandeira. Com a diferença de que o pernambucano via o beco pela janela, prosaicamente protegido pelo anteparo do vidro ou da sacada, enquanto Dalton o sente na tensão difícil entre os poucos corpos que se aventuram a percorrê-lo ou mesmo a habitá-lo. O beco é sujo, mal iluminado, esquecido na geografia da cidade, mas ele guarda vida, e o risco sempre iminente da morte.
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O que importa em Dalton é que o vigor do seu não tem um poder regenerador. Paradoxalmente, é do beco que vem o olhar menos provinciano, menos local, menos paranaense, um dos olhares mais vivos e maduros que o Brasil já teve. Por isso Curitiba tem tão pouca importância em sua obra, afinal Curitiba poderia ser Dublin, São Petersburgo ou Paris.
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Do livro Riachuelo, 266
sábado, 15 de maio de 2010
sexta-feira, 14 de maio de 2010
2 x Cartaz GUINGA 60anos
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Este o cartaz impresso para o show GUINGA 60 anos. A pintura é minha, assim como o projeto gráfico. A execução de arte, com muita criatividade e sugestões sempre sensíveis, é de Ivonete Santos, que está prestes a compreender o que quero telepaticamente. O mentor espiritual desse projeto lindo é meu irmão Robert Amorim. E também quem o viabilizou concretamente.
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Foram feitas 80 impressões serigráficas desse cartaz, em papel canson branco, 220g. E 21 impressões em papel canson bege, 220g, como tiragem especial, numeradas de 1 a 21, assinadas. A partir de hoje eles começam a ser fixados em alguns locais da cidade, divulgando o show do próximo dia 10. Vida longa a Carlos Althier de Souza Lemos Escobar, o Guinga, nascido a 10 de junho de 1950 em São Sebastião do Rio de Janeiro.
Este o cartaz impresso para o show GUINGA 60 anos. A pintura é minha, assim como o projeto gráfico. A execução de arte, com muita criatividade e sugestões sempre sensíveis, é de Ivonete Santos, que está prestes a compreender o que quero telepaticamente. O mentor espiritual desse projeto lindo é meu irmão Robert Amorim. E também quem o viabilizou concretamente.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
A Mais Bela Flor
Desvendério
Esta a nova capa do livro Desvendério, do Chico dos Bonecos, que ilustrei para a editora Peirópolis. Usei a colagem do próprio texto original na composição dos desenhos. Para cada conto, o texto a ele correspondente. Desenho, recorte e colagem foram as técnicas que usei.
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domingo, 9 de maio de 2010
punk do Gabriel
.desenho de Gabriel, meu filho
Desenhos de crianças são uma maravilha. Nossa curiosidade nunca é suficiente pra perceber tanta invenção. Toda vez que vejo uma criança desenhando, invejo a desenvoltura dela - mas uma inveja boa, cheia de admiração. Queria pra mim essa desenvoltura sem travas, sem um tico de preocupação para onde as coisas vão. Para a esquerda, para a direita, para cima ou para baixo, que diferença faz... a vida está em todos os lugares.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
GUINGA 60 anos
(clique nas imagens para ampliá-las)
Guinga, compositor e violonista inspirado pelos anjos, comemorará seus 60 anos em Curitiba, dia 10 de junho, no Guairão. Faço o material gráfico para o show, assim como o cenário. Ontem, na Gazeta do Povo, Luiz Claudio Oliveira escreveu um texto belíssimo sobre o músico carioca e seus convidados: Guinga escolhe Curitiba para festejar 60 anos .
Duas são as versões para cartaz, uma em serigrafia, com tiragem limitada, e outra impressa, com trabalhos distintos. A imagem que abre este blog é uma delas, a outra é a primeira da sequência de 4, acima. As outras são algumas das versões não usados.
Artes Plásticas/Bicicletas de Montreal
José Castello
“Partindo do quase-nada, Carlos Dala Stella não só fez um livro sensível e belo, mas nos ensinou alguma coisa a respeito da arte e da escrita. Teve as qualidades que formam o artista e o escritor: a paciência para esperar, sem saber o que se espera; a liberdade interior; a coragem para suportar o susto quando a coisa chega. Clarice Lispector, meio freudiana, dizia: o ‘isso’. Carlos não quis impor seu estilo, ou estabelecer significados. Limitou-se a aceitar aquilo que lhe vinha, sem nada pedir em troca, sem impor condições ou discriminar respostas, e foi por isso, só por isso, que fez um livro estupendo.”
Rascunho, março de 2003.
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Ubiratan Brasil
“O livro é composto de 35 fotografias e 44 trabalhos sobre papel, como desenhos, gravuras, recortes e colagens. A intenção, bem-sucedida, do artista plástico era estabelecer um diálogo entre as imagens, permitindo que a leitura não seguisse a ordem natural das páginas. Nesse sentido, o livro funciona como um grande quebra-cabeça que pode ser lido na ordem que se preferir.”
O Estado de S. Paulo, 19 de março de 2003.
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André Seffrin
“Com a máquina fotográfica em punho, ele pouco a pouco registrou essa alegria, esse nada. Depois, com nanquim, crayon, grafite, etc., em variantes técnicas que não excluíram a fotografia propriamente dita, chegou ao livro. Um livro que nos revela o artista ‘à disposição da infinita realidade’, ou seja, que nos revela o sentido da arte e o lugar do artista no mundo dos homens. Ele também escreveu para o livro um texto impregnado de poesia, quase agônico em sua inquietude. Em meio aos tantos embustes do panorama atual das artes plásticas, eis um nome que merece toda a atenção.”
Pasquim, 25 de março de 2003
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José Carlos Fernandes
“Não bastasse, as bicicletas de que se ocupa Dala Stella são um caso à parte, uma espécie de lixo industrial deixado ao tempo e ao vento em um país rico, sem serventia nenhuma. São, por isso, presas perfeitas para fazer uma variação de um único tema, idéia que persegue o artista não é de hoje. Carlos sempre trabalha uma idéia à exaustão, para conseguir, justo, o que alcançou com as velos. Não lhes falta, por isso, dramaticidade, lirismo, emoção e umas tantas narrativas sugeridas.”
Gazeta do Povo, 27 de fevereiro de 2003
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Diogo Sinhorotto
“Vendo as obras contidas em ‘Bicicletas de Montreal’, recordamos a poesia que pode ficar esquecida no corre-corre urbano. Além de belas imagens, Carlos Dala Stella pretende oferecer uma sonoridade: ‘Criei uma espécie visual, mas de grande apelo aos outros sentidos. As bicicletas são um pretexto gráfico para ouvir a música das rodas e das folhas’, comenta.”
Jornal do Commercio, 20,21 e 22 de abril de 2003.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
ícaro 3
Esta foi uma das primeiras telas em que usei simultaneamente óleo, acrílica, pastel, lápis de cor e carvão. Uma foto preto e branco dela ilustra O Gato sem Nome.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
O Gato Sem Nome
camada espessa de silêncio
emudece a manhã.
os significados se foram
apenas os olhos, sonolentos, beijam
com delicado ardor o que vêem.
se ao menos chovesse
a manhã fosse mais longa
o laranja dos hibiscos
incendiasse meu dia.
o sexo em mim avulta
todo desejo e manipulação.
nu, no ateliê, tateio
a superfície sonora do mundo:
relógio, passarinhos, vozes
esses eternos motores.
(clique na imagem para ampliá-la)
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Poema e desenho de um de meus cadernos de ateliê, usados no livro O Gato sem Nome. Nesses cadernos escrevo e desenho quase diariamente. Iniciei o primeiro quanto tinha 18 anos, escrevendo sobretudo poemas. Hoje são mais de 10 mil páginas. Aos poucos o texto foi dando lugar ao desenho, às colagens, aos recortes. Meus cadernos agora são híbridos. Eles são a expressão de minha indentidade menos arranjada, por isso mais íntima.
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domingo, 2 de maio de 2010
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