sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

o perigo da arte patrocinada



“Antigamente, havia o medo de que entre os objetos de arte houvesse alguns que pudessem corromper, portanto toda arte era proibida. Agora, existe somente o medo de que se possa ser privado de algum prazer proporcionado pela arte, portanto toda arte é patrocinada. E eu acho que o segundo erro é muito maior que o primeiro e que suas consequências são muito mais danosas.”

Leon Tolstoi



aceita o veludo
dos segredos vermelhos
com que te cubro
e lambe no escuro
uma a uma as pétalas
ardentes da paixão

terça-feira, 20 de novembro de 2012

sobre o Sentido




1 Que importa se às vezes esperam que contemos uma história? Não apenas um poema, um desenho, ou uma pintura, mas mesmo um painel de cimento tem muito pouco a ver com os fatos, com a história de alguns fatos. O que importa é esse sentido abstrato, que provém das linhas e dos volumes, das cores quando há cor, da modulação das formas - nem por isso menos direto, menos inequívoco. É esse sentido que nasce da matéria animada a única coisa que no final das contas procuramos. É ele a razão de cada um de nossos dias, com um frescor vital, com uma essencialidade gratuita só comparável ao ar, à água, ao amor, às crianças, às árvores...

2  A representação da realidade é tão forte como a corporificação dos objetos. É preciso preservar a todo custo o frescor e a capacidade de alegria que exercitamos sem limite durante a infância. A imaginação não pode ser penalizada pela existência dos objetos, pela unipresença da ralidade. Nossa identidade não passa de um ser de imaginação.

3  Para ser compreendido, o pintor não precisa dizer tudo, ou quase tudo, ao contrário do romancista, por exemplo. Os poetas também são assim, boa parte do sentido que vai em seus poemas é dito de forma vaga, mas não menos assertivamente. E exatamente nisso é que reside a vantagem da pintura, nessa economia de meios - abarcada por um único lance de olhos. Os sentimentos do pintor e do espectador parecem se encontrar de modo mais direto. E quantos sentidos germinam no subsolo desse encontro!

4  Por trás de algumas telas - e mesmo de alguns desenhos - há dezenas de horas de reflexão. Isso quando não vai nelas toda uma vida de impressões meditativas. 

5  Romero Brito é um pastiche de Leger, uma simplificação pop até o nível mais baixo de indigência, e por isso mesmo cada vez mais acessível a essa mediocridade desenvolta e colorida que esvazia o mundo de todos os sentidos. 
 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Alice Yamamura
























Alice, hoje tomando chá lembrei de você. Chá vermelho no covo da cerâmica preta. Tão bom ver o pouco de luz lá no fundo, o reflexo de uma lembraça, teus corações vermelhos. Tão quente nas mãos, a forma irregular do copo, rugosa. Tão viva tua matéria, feita de silêncio e sutilezas. Hoje, Alice, tomando chá conversei com você.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Painel Sto Inácio/2






Primeiro contenta-se o significado simbólico, a vida de Íñigo Lopez, o homem que foi lido pela posteridade como o santo basco Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. Depois deseja-se amplificar esse significado simbólico, vendo nele o desejo pela busca do conhecimento, e o painel, ainda sonhado, pode ser lido como uma alegoria do vir a ser. E o vir a ser tanto mais pleno é quanto mais em direção ao outro se dá. Pelo menos é o que se depreende da vida dos grandes místicos.

Depois ainda, ao levar os desenhos iniciais para as placas de isopor, lida-se com a matéria, branca, leve, apesar do petróleo que a constitui. Nesse momento o que conta são as formas, quase sempre arredondadas, parabólicas, e as linhas de força dos volumes, curvas na maioria das vezes. Está-se lidando agora com o significado abstrato do painel. É preciso continuar inventando, descobrindo o que havia no subsolo dos desenhos iniciais, eliminando as impurezas, acentuando o que parecia periférico, abrindo espaço para que o imprevisto possa se dar.

Nesse momento de muito trabalho físico, cortando as placas, é melhor entregar-se às mãos, ou pelo menos dividir com elas a direção do processo. Elas sabem, melhor do que a cabeça, lidar com as abstrações do mundo. Desse jogo de volumes e linhas em relevo vai depender o sucesso ou não daquele significado simbólico lá do início. É da soma desses significados, depois de ganhar seu corpo final, em cimento, que resulta um painel.


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Painel Sto Inácio/1






Começo a postar hoje desenhos e formas de isopor do painel de Santo Inácio - encomenda do Colégio Medianeira, de Curitiba. Os desenhos são estudos para definir pormenorizadamente o projeto; as formas de isopor são a matriz sobre a qual vamos fundir o concreto. No total serão 36 blocos totalizando 20m².

Depois de um mês e meio cortando isopor, as formas estão prontas. Falta colar uma a uma as lâminas de cada forma, no formato padrão 100x50cm, preparar as caixas de madeira e partir para a fundição em concreto, no início de novembro.

O piso debaixo do ateliê virou um mar branco de isopor. A partir dos estudos, fui definindo linhas, volumes, sempre atento ao ritmo que intuí lá no início, de certa delicadeza, acentuada no final do processo pela "bordadura" com pirógrafo em algumas áreas do tema. Foi assim que se deu o trânsito da concepção simbólica do painel, em abril, para sua concretização em volumes negativos e positivos, finalizada agora em meados de outubro.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

FLIM - Festa Literária do Medianeira - 2012


Quem não lê mal conhece o próprio umbigo. Ou padece dessa onda global de consumo exagerado de bens descartáveis, quase sempre desnecessários. Quem lê exercita o silêncio, esse bem cada vez mais raro num mundo cada vez mais barulhento. A leitura põe o sonho e os desejos no centro da roda, matizando a tal realidade da vida com tudo que afetiva nossa cognição. A leitura aumenta nossa reserva de subjetividade, especialmente a leitura de ficção, de poesia. O que vivemos durante a leitura não vivemos em nenhum outro lugar, esse deixar-se levar pelo desconhecido - que há em todos nós - bem no fluxo da corrente. São tantas as possibilidades, tanto o frescor entre as linhas.

  http://www.colegiomedianeira.g12.br/blogs/flim2012/

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

peixes brancos



Dois peixes, estudos para o painel de Santo Inácio, em que trabalho diariamente desde agosto. O primeiro em papel, o segundo em isopor. Nos próximos dias devo fundir em cimento o peixe da forma de isopor. Assim avalio principalmente os detalhes queimados com pirógrafo. Se a coisa funcionar, transporto essas soluções para o grande painel.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012





Dia desses, antes que algumas visitas chegassem, me pus a desenhar sobre uma tela há meses no cavalete, esboçada com linhas praticamente invisíveis. Quando dei por mim, estava no meio de uma estrutura complexa, mobilizado até a medula, mas de certa forma distraído, mobilizado por uma atenção de viés. Isso tem me acontecido com certa frequência, quanto mais alheio, obediente a sabe-se lá que fio condutor, melhor trabalho. É como se eu me entregasse, desprevenido, ao mais desconhecido em mim mesmo. Assim sem temor, sem pompa, sem expectativa. Entregue ao acaso das mãos, decerto conectadas ao que me passa pela cabeça, mas como se autônomas. Como se eu fosse uno e todo à superfície. Quando na verdade sou um feixe de fragmentos mal cosidos, cheio de temores e pressentimentos.

Hoje cedo me aconteceu algo idêntico, enquanto o pessoal do Estúdio 42 filmava o "processo" (que palavra horrorosa!) de criação das formas em isopor para o painel de Inácio de Loyola, em cimento, para o Colégio Medianeira. Inventei de recortar de improviso o peixe que é um dos elementos do conjunto. E as coisas foram se dando, quanto mais me entreguei ao gume da pequena faca que uso para cortar o branco do isopor, mais os volumes foram se organizando, assim de graça. Tudo que tenho que fazer é ficar à superfície, longe da gosma "do íntimo da alma humana". Pode que a colheita se dê, pode que não.

Muitas vezes é a pressão de tempo que me põe nesse estado. Às cinco horas tenho que jatear um vidro na vidraçaria. São três da tarde e eu ainda não comecei o que já deveria estar pronto. Me concentro e no limite do desespero ataco. E o estilete inventa linhas, corta, separa, correndo de um extremo ao outro da lâmina de vidro. Parece que nada vai funcionar, mas quando vejo algo se deu. Corro para a vidraçaria. A sensação ruim ainda continua, mas tudo está lá, muito mais do que o previsto. E eu não compreendo mais nada. Então quanto mais me dedico, minucioso, mais empato o jogo, quanto mais corro e improviso, melhor o resultado? É como se eu tivesse que mergulhar para a superfície, para a superfície abissal da realidade.

O que se dá é mais ou menos isso: quanto mais me cobram, mais me disperdiço. E o desperdiço me devolve a um eu que eu mal sabia em mim, um estranho com quem convivo entre contente e desconfiado. Silenciosamente agradecido.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

mulher-pomba com violão/estudos




Passei o ano de 2005, e boa parte de 2006, dedicando-me a esse pequeno painel. O projeto final inclui uma peça de cimento, decomposta em puzzle, fixada num vidro trapezoidal jateado, e uma tela no mesmo formato. Esses três elementos, sobrepostos, compõem uma única obra. Dialogando com o conjunto, fiz ainda dois vidros retangulares jateados para uma porta, também inspirados na música, especialmente na música para violão.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

literatura contemporânea


O grande mal da literatura contemporânea feita especialmente por professores universitários e jornalistas é investir demasiada e exclusivamente naquilo que diz, como se apenas a intencionalidade das ideias bastasse para construir uma visão de mundo, deixando em segundo plano o ímpeto de dizer, seja ele movido pelo desespero, pelo desconsolo, pela relativa alucinação ou pelo empuxo da alegria.

Nas grandes obras de arte, a construção minuciosa das várias camadas de significado anda a par e passo com a necessidade irrevogável de existir. É essa urgência que as distingue do mar de obras cheias de inteligência e vazias de pressentimentos. O sentido, tanto quanto o consolo que encontramos nelas, provém mais do impulso com que o autor transcende a realidade do que daquilo que nelas vai dito explicitamente. Mas é preciso ter coragem para entregar-se a esse impulso vital pleno de abstrações e obscuridades. E não há volta.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

8 X CHUNG TOI










O jogo da velha em que nunca há empate leva o nome de seu criador, Chung Toi. Estas são algumas versões que fiz do jogo, entre tantas outras. 


sexta-feira, 27 de julho de 2012

meu JARDIM







Última placa de vidro do painel "jardim", pronta para ir para a cabine de jateamento. O que está coberto pela fita fica transparente, o que está descoberto fica fosco. Camuflada entre as folhas da costela de adão, uma pequena lagartixa; no alto uma corujinha voando, na base do vidro um carreiro de tanajuras. E assim as sete placas, num total de 12,5 m², estão prestes a serem instaladas, depois de quatro meses ininterruptos de trabalho.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Gengibre vermelho





Mais do que esboçar o trabalho final, com estudos como esse pretendo definir um ritmo, ao memo tempo que vou acostumando a mão a ele, seja usando o lápis, seja usando o estilete. E espero que a mão seja capaz de improvisar naturalmente no momento preciso. Sem esquecer os achados anteriores, como o xadrez que se deu nesse estudo em vidro do hedychium coccineum, popularmente comhecido como gengibre vermelho.

O painel de vidro, ao qual esse detalhe remete, com um ritmo que se mantém de uma planta para outra, nos melhores momentos abstratizado, ele equivale a um concerto de câmara, mais especificadamente a um quarteto de cordas. Mas com humor, dado pelos pequenos animais que vou introduzindo, quase sempre ao rés do chão. Tudo envolto em um silêncio de água, mais do que de ar, o que se deve à incidência da luz sobre as áreas jateadas do vidro. Gravar em vidro alia precisão e improviso.