domingo, 24 de dezembro de 2017

Emily Dickinson, poema 77



nunca ouço a palavra 'fuga'
sem que o coração
me saia pela boca
na iminência de voar

nunca ouço que arrombaram
uma prisão, sem sacudir
estas grades, na ilusão
de ganhar liberdade

tradução de Carlos Dala Stella

Primeiro quis traduzir a urgência do sentimento de fuga, ou de aprisionamento, desincumbido dos recursos técnicos do original, depois fazer uma variação interpretativa desse sentimento, que de alguma forma é aparentado com minha arte muda da fuga, embora aqui a ênfase recaia sobre o silêncio mudo de meu diálogo com o mundo. E finalmente acabei ganhando essa liberdade abstrata que os pintores exercitam reinterpretando pinturas famosas, de artistas que admiram, e que lhes permite de um lado alargar a própria fala, de outro botar mais um elo nessa corrente de imaginação que dá volta ao mundo. 
I never hear the word “escape”
Without a quicker blood,
A sudden expectation
A flying attitude!
I never hear of prisons broad
By soldiers battered down,
But I tug childish at my bars
Only to fail again!
Emily Dickinson