segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A Sombra do Nanquim

(clique na imagem para ampliá-la)

Este desenho pertence a série Sombras, inicialmente de fotografias, mas que se desdobra no ateliê, em outros materiais, outras técnicas. É impressionante como através das sombras lê-se a luz do dia e da noite. E lê-se a cor, porque as sombras têm cor, uma infinidade delas. O negro das sombras é apenas a sua superfície mais visível. Há sombras vermelhas, amarelas, há um mundo de sombras verdes, especialmente à noite.

No plano cognitivo, ou simbólico, as sombras duplicam o mundo. E assim fazendo, permitem que a leitura dele seja ambígua, multifacetada, de acordo com a subjetividade de cada um. Ler o mundo tendo como contraponto as sombras abranda a dureza dos gestos, incluindo movimentos novos na coreografia; tira das coisas e das pessoas o que mal pressentimos, mas nos compõem, desdobrando-nos, às vezes, em direção a uma insuspeitada e silente doçura.

As sombras são um reduto de intimidade, invisível quase sempre aos olhos, dada a presença imperativa das coisas elas mesmas. À sombra brotam o silêncio e a solidão mais fecundos e a alegria mais genuina. Sua natureza incorpórea é a lembrança sutil de que também somos feitos de delicadezas.
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