terça-feira, 17 de agosto de 2010
Sobre Sombras
Não sei porque comecei a fotografar sombras, nunca sei porque começo. Começo porque preciso, preciso do que não sei. E às vezes nem preciso com tanta premência. Muitas vezes começo distraidamente. Mas o que vem depois me exige, me subjuga, me prende por um bom tempo, por anos a fio. Então fico me perguntando o sentido de tudo isso, enquanto continuo a trabalhar, agora mais do que antes. O sentido dessas sombras de árvores, de postes, de mim mesmo, das pessoas de que gosto e das que desconheço e pesco pelas ruas. O que sei é que o sentido das sombras é fugaz e que ele nasce da luz - embora isso pareça um paradoxo lugar-comum. Luz e ausência dela, dessa dualidade básica são feitas as sombras.
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Essa fugacidade é a mesma que impregna tudo. Como as sombras, um sorriso iluminado de agora vai se apagar logo mais, um corpo aceso por múltiplos sentidos será inesperadamente anulado pelos sem-sentidos do mundo e desaparecerá. Por isso é bom estar atento. O que põe fim a uma sombra não é a ausência de luz, mas uma sombra maior. Luz sempre haverá, basta uma faísca, um relâmpago, o olhar de uma criança. Por isso é bom estar atento.
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A partir das sombras fotografadas, começo a desenhar, recortar, pintar. Este é um primeiro estudo, sobre papelão. Usei sobras espalhadas pelo ateliê, restos de calendário, fotografias, lápis coloridos, canetas, carvão... Fui progredindo lentamente, outros estão em andamento. Por enquanto preferi partir de fotografias falhadas, mas que lá a seu modo, com seu corpo de sombra, me sugerem singificados que prefiro manter nessa zona de obscuridade de onde elas surgiram. Atento à luz que há nelas.
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