sexta-feira, 26 de novembro de 2010

1ª EXPO DE ATELIÊ

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Convido amigos, clientes e público de um modo geral para minha primeira EXPOSIÇÃO DE ATELIÊ em Curitiba. Em 2001 fiz o mesmo em Montreal e fiquei encantado com o resultado, com os encontros, com as trocas. Abro as portas do ateliê em pleno funcionamento, lá estão as telas em andamento, os esboços, os projetos e as obras acabadas, em vidro, cimento, óleo, acrílica... a maioria destas com 30% de desconto.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

piano

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Este é um dos quase 20 estudos de piano para um painel de cimento e vidro sobre o mesmo tema, encomenda de Robert Amorim. O painel e os estudos serão expostos na inauguração do Piano Radamés Gnattali, na sala Gebran Sabbag, no Beto Batata do alto da XV, no início de janeiro.
Este trabalho foi feito feito com óleo sobre mdf, mais colagem com fotografias de minha série Variações Negras, nanquim preto e vermelho e lápis de cor. Cada vez mais misturo óleo e materiais gráficos, mesmo em telas de grande formato.
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Com esses desenhos e telas dou continuidade à minha série de trabalhos sobre instrumentos musicais. Cada instrumento é tema de dezenas de variações. Ela foi me ocorrendo aos poucos, especialmente depois que instalei um enorme painel de vidro e cimento em uma residência da cidade, em 2005, incluídos alguns jatos de areia sobre vidro. No futuro, gostaria de reunir esses conjuntos em um livro, inicialmente dedicado a instrumentos de corda.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Grafismo sobre tela

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CRÍTICA/Artes Plásticas e Literatura

 

GAZETA DO POVO Cristovão Tezza
Visita a Carlos Dala Stella
Publicado em 03/05/2011

Curitibano jamais visita alguém sem avisar antes, uma regra que vale tanto para os vizinhos de prédio quanto para os amigos longínquos. O resultado é que vamos nos encapsulando num conforto sem riscos, de emoções cuidadosamente controladas. Pois na semana passada saí de casa seguindo a aventura geográfica que percorro duas vezes por semana e que me tira do miolo da cidade para os confins de São João, nos limites de Curitiba.
Ao espichar o mapa do GPS, que resolveu minha tradicional incapacidade de orientação topográfica, percebi que duas quadras adiante não existia mais nada – o mundo acabava súbito em 120 metros, conforme informava a telinha falante. Temeroso daquele vazio, fiz a volta e digitei “Toaldo Túlio”, bairro de Santa Felicidade, segunda parte da viagem, para onde avancei por atalhos até reencontrar, depois de quase um ano, três e-mails e um aviso por telefone, meu amigo Carlos Dala Stella, que conheci bem antes de ele se tornar o artista plástico que é hoje. Começamos juntos um mestrado de Letras, nos anos 1980, e dali ele enveredou para a pintura, mas sem jamais perder o contato com a literatura, o que é visível em seu trabalho.
Em poucos minutos, atravessando um portão, passei da agitação dos carros para um corredor inesperado e tranquilo de araucárias, uma pequena chácara encravada e protegida no bairro, com um cachorro, pássaros, verde em toda parte, o céu cortado de copas de árvores, um breve frio de outono. No meio de tudo, Dala Stella ergueu seu ateliê, um espaço a um tempo discreto e amplo, com dois andares abertos e vazados de luz por altas faixas de vidro. Enquanto ele fotografava alguns desenhos e bicos de pena seus que estavam comigo, e que farão parte de um novo projeto que está criando, perambulei pelo ateliê admirando os quadros expostos e relembrando sua arte.
Um ateliê de pintura é sempre um espaço que me agrada muito, uma síntese física de um modo pessoal de ver o mundo, pela via da imagem, do traço, da combinação de formas e cores, como alguém que vive dentro de sua própria obra. Posso sentir essa ligação também na literatura, mas o texto nunca se deixa ver completamente (daí porque um escritório de escritor em geral diz pouco), enquanto a pintura, na sua apreensão instantânea, escancara-se ao olhar. O ateliê do Carlos é ele inteiro, em cada detalhe. Surpreende no seu trabalho – que eu revia com prazer, para onde quer que olhasse – o domínio de muitas técnicas, dos retratos a lápis e bico de pena (ele é um desenhista refinado), passando pelos recortes em cartão com seus efeitos de luz e sombra, aos impactantes murais em tela, concreto ou vidro. Sobre a mesa maior, folheei uma coleção de cadernos, ou diários, em que poesia e desenho se alternam página a página.
Na despedida, ainda ganhei de presente uns dois quilos de pinhão colhidos na hora. Uma visita maravilhosa.

CIMENTAIS

Manuel da Costa Pinto
Editor da revista CULT/Catálogo

Num momento em que a arte contemporânea vive entre as alternativas excludentes da tela e das instalações, como se pôde ver nas últimas Bienais de São Paulo, a exposição CIMENTAIS, de Carlos Dala Stella, surge como uma espécie rara de reflexão sobre as possibilidades expressivas da oscilação entre o plano e o tridimensional.

Sem deixar de ter um valor estético apreensível pela instantaneidade do olhar, os painéis de Dala Stella poderiam ser definidos com um exercício de constrição formal, em que o artista cria limites, regras estritas a partir das quais organiza o caos da criação. Daí o progressivo e lento percurso de suas figuras, que vão saltando dos relevos dos painéis até ganharem a dimensão espacial da escultura.

Abdicando de optar por formas puras, Dala Stella consegue criar, nesta seqüência de obras, um efeito narrativo, que conduz da aridez plana do cimento ( material predominante dos painéis) à opulência corpórea de suas personagens. Some-se a isso o aparato didático que cerca cada painel (esboço e textos que precederam a concepção final de cada um) e teremos a sua filosofia da composição.

A referência à literatura não é gratuita. Afinal, esse artista que faz sua primeira exposição individual é também poeta, o que ajuda a explicar aquela idéia de constrição que norteia o rigor estilístico de suas obras. Assim como escritores tão diferentes quanto Poe, Borges ou Calvino que perceberam a arbitrariedade necessária da forma, criando para si cânones que pressupõem uma possibilidade de transgressão, o poeta Carlos Dala Stella forjou seu próprio universo de representações, um universo que se vai diluindo na espacialização dos painéis, ou pelos simulacros de si mesmos (como no ilusionismo irônico do isopor pintado, que reproduz o efeito visual do concreto, abolindo a oposição entre peso e leveza).

As obras de Carlos Dala Stella estavam até agora dispersas em reproduções de jornais e capas de livros. Mas CIMENTAIS não é apenas a oportunidade de presenciar o diálogo existente entre as suas diversas criações; a exposição permite também identificar suas referências estéticas, como Poty e os grandes artistas catalãos (sobretudo Miró), que têm presença óbvia na alegria mediterrânea das obras desse poeta da matéria.

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CIMENTAIS

Cristóvão Tezza / escritor

Há muito o que admirar na arte de Dala Stella. O princípio é esse trânsito tranqüilo entre a figura e a (quase) abstração, que vai se desenhando com o poder da intuição e o domínio técnico dos materiais que, falar nisso, vão do cimento armado ao papel de seda, com um à vontade que espanta. Nele, mesmo o mais fragmentário ser no nanquim, no vidro, na cor já nasce inteiro e firme, claríssimo nos limites do espaço, sempre bom de ver. Mas há outra admiração minha: é a paixão de Dala Stella pela literatura, que sem retórica, parece criar de longe, como quem não quer nada, a estranha consistência de suas formas, pondo de mãos dadas tanto a prosa (a linguagem dos outros) quanto a poesia (a linguagem dele) tudo isso desenhado, e às vezes por escrito. E por essas e outras que considero um privilégio tê-lo na capa dos meus livros.

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DALA STELLA NO CONCRETO / fragmentos

Paulo Venturelli
Escritor e Professor de Literatura na UFPR

No deserto em que Dala Stella se coloca, ele tem qualquer coisa de oriental. Rejeita o barulho, rejeita a proliferação desordenada de investidas ocas, cujo brilho é sempre fátuo. E entra numa espécie de essencialidade, fruto de um satori, de uma iluminação que é seu modo de flagrar cada degrau do universo. Pensemos num menino sobre o cabo da vassoura: cavalo. Pensemos numa menina com um toco entre panos que seus braços embalam: filho/boneca. Carlos suga desses instantes a graça de uma captação que vira toque de mutação: a pincelada faz voar, o recorte reatualiza a visão que vem dos lugares escondidos de Santa Felicidade. Por isso seu trabalho tem economia de formas, é uma arte que rejeita qualquer retórica, porque assume a pureza da linha e da cor, estilizando seus encantos pela vida.
Ele quer, antes de mais nada, o ludismo. Seu ludismo não quer dizer inconseqüência, ou falta de seriedade, ou descompromisso. Seu ludismo é a porta que ele abre para apascentar-se de novidades e forrar seu ateliê com a eletricidade de cores e volumes que vão registrando uma história, um caminho. E tudo isso é evidente quando encaro um material básico em seu trabalho: o cimento. De aparência fria, desumana, com função só utilitarista, Carlos consegue transformá-lo em seiva quente, matéria pulsante, humana, sobretudo humana. Na última vez em que estive em sua casa, conheci outra área que ele está explorando: cimento com vidro. As duas linguagens parecem se repelir, parecem guardar em si um curto-circuito de anulação. Mas o artista está sempre empenhado na busca, e nela já se ergue nova linguagem, material inovador. Ele retira dos dois a incrível poesia da leveza, o total lirismo da transparência. É neste instante, mais que nunca, que chego a perceber como a palavra poética nele transforma-se em matéria tátil, visual. Seus objetos têm muito disso: convidam ao toque, insistem numa interação que é de todos os sentidos, não só do visual.
Cada quadro, cada desenho, escultura ou montagem ou colagem fustiga nossos subterrâneos e nos leva a um outro patamar da compreensão. Para fruir tais texturas, é preciso mais que a esfera mental. É preciso ainda ir além, ir à poesia no concreto e na tinta e ver através de, por meio de. Germina em cada detalhe a explosão do que se pode transfigurar. E não é milagre ou misticismo ou inspiração. Não, é trabalho, um trabalho que de repente revela a paz que há no barulho, a calmaria que se estende sob o sol, a concha profundamente quieta, enquanto o oceano se parte em mil. Nada de tormentos descabelados, nada de suar sangue, nada de prazer de explodir os ossos, puro vazio. O que Dala Stella está a oferecer é a construção que segue um roteiro de harmonias, sem alarde, e muitas vezes, harmonias surpreendentes, porque não se esperava encontrá-las logo ali, no vidro, no cimento, no isopor, no recorte de revista, naquele tom de cor. Notem bem: é por isso que ele trabalha com olhos e genitálias. Estas fecundam, aqueles abrem gigantescos parênteses no meio da pletora do mundo e descondicionam nossas vistas cansadas, para que possamos entender a vida como algo integralmente realizável, viável, sobretudo na criação. Carlos navega num mar de pequenas descobertas que se agigantam.
Adoro passar uma tarde em sua casa, chafurdar em sua mesa, onde encontro Montaigne, Cioran, Kafka encavalados em Matisse, Frida Kahlo, Picasso. Na meio luz da biblioteca, ou na claridade do ateliê, tudo se abraça a tudo, tudo insemina tudo e saio de lá sempre grávido de novas luzes, experimentando uma insuportável vontade de bater asas. Dala Stella vive em regime de concentração. Num centímetro quadrado faz o mundo, recria o dia, refaz a estrada. Uma tesoura e um jornal, e, pronto, lá vem coisa surpreendente, chaves para novas investidas. Ao seu redor, a gente vê que o sonho de verdade comanda a alma, não como embriaguez, e sim como via de acesso a tudo o que podemos ter de real: recriar cada instante