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Essas câmeras pequenas de alta resolução são uma maravilha, você saca e atira, saca e atira, e ninguém vê nada, assim hiperdiscretamente é possível roubar o que o olho da alma apenas pressente, de esguelha, sem mesmo que os outros dois olhos vejam de fato, e é bom que seja assim, entre plumas, entrelinhas, cego de ver objetividades, que se impõem tanto via publicidade, tevê, moda, lataria de automóveis, lugares comuns, redes sociais, melhor que seja assim, câmera-arma de brinquedo, sem pose, sem desejo de posse, sem sobriedade, melhor só a nuvem do desejo disparando o que antes foi diafragma, sem projeto, sem contrapartida social, qual a contrapartida social de um poema, de um beijo? qual o público alvo de um suspiro? pra que lei de incentivo para o gozo? essas câmeras compactas são uma maravilha de inexistência, você saca e atira, abstraída a mira, saca e atira no corpo do belo tangível, translúcido de sombras, e só um louco de olhos bem abertos veria nele o intangível.
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