domingo, 26 de junho de 2011

Da natureza do prazer em rede



O prazer, em rede, é espasmódico e superficial. O simples fato de encontrar os amigos ou seguidores on-line, em tempo real, convidando-os para um evento, ou postando um comentário genérico sobre seja o que for, já é suficiente para criar um estado de euforia que de alguma forma satisfaz o prazer ainda embrionário do encontro.

Essa satisfação se deve, em boa dose, à imediatez da reação do amigo virtual. Reação, não resposta. Porque uma resposta demanda envolvimento e uma série de operações cognitivas que não cabem nesse espaço soldado pela totalidade e cujo sentido está na quantificação. Estamos a quilômetros da qualidade nas relações humanas.

Nada que não tenha sido “resolvido” naquele exato momento de “encontro” será retomado mais tarde, no fluxo “convencional” do tempo. Não é da natureza do encontro virtual estabelecer-se um empenho que se desdobre para depois. Os empenhos, aqui-agora, são fluidos, em poucos segundos serão outros. E mesmo que se estabeleçam, a regra é que eles sejam descumpridos.

O surgimento das redes sociais parece ter alterado a natureza do prazer. Elas trouxeram à tona ingredientes narcisistas que a proximidade física inibia. Com a ausência dos corpos, e a segurança do distante, uma série de mecanismos primários de construção e manipulação da própria identidade vem à tona.

Não há mais risco para o prazer, por isso cada um se compraz na manipulação sem pudor de si mesmo, para um outro cuja fisicalidade e complexidade humana estão fora de alcance. Ele também empenhado na mesma construção solitária, portanto segura de si mesmo. E o prazer espoca aqui e acolá, linha após linha, como fogos de artifício vistos de um avião, no meio da noite.

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