quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Óscar Hahn 6

NIETZSCHE NO SANATÓRIO DA BASILEIA



Esta descida dura uma eternidade

Aqui se cozinham vivos os peixes dos sentidos

Chegou o tempo do descanso que não descansa
Quando os cães seguem santas e fantasmas

Então minha mãe e minha irmã resmungaram sem voz
E o que você sabe de tudo isso?

Duas vezes me enterraram nesse outono, mãe

De repente um furacão me afastou as asas com violência
e o caixão se abriu

Que faz minha irmã no bosque?
Seu fantasma nasceu de minhas cinzas

Minha espada quer provar seu sangue
e brilha ardente de desejo

Minha mãe é este vento que seca as árvores frutíferas

E o que você sabe de tudo isso, resmungaram sem voz

As crianças e as papoulas são inocentes
mesmo em sua maldade, recitaram em coro

Ainda ouço o matraquear daqueles rostos
O de minha mãe e o de minha irmã

A terra tem pele e essa pele está coberta de enfermidades
replicaram chorando

Escute filho, você é uma noite de risos macabros
De onde vem esse vomitório?

Vêm do fundo de tuas profundezas, escute
Agora derreto ao sol e os cães me lambem a pele

Você é um banhado de morte no pesadelo
dos condenados ao sonho, gritaram as bruxas

Sou um banhado de sonhos no pesadelo
dos condenados à morte, queridas

Então voltaram a resmungar sem voz
E o que você sabe de tudo isso?

Vão as duas pro inferno, respondi

Esta descida não acaba nunca


Tradução de Carlos Dala Stella

NIETZSCHE EN EL SANATORIO DE BASILEA
.

Esta calle que baja dura una eternidad

Aquí se cuecen vivos los grandes pensamientos

Ha llegado la hora del descanso en que no se descansa
Cuando los perros creen en santos y en fantasmas

En este punto mi madre y mi hermana preguntaron sin voz
¿Y qué sabes tú de todo eso?

Me han enterrado dos veces este otoño mamá

De repente el huracán me separó las alas con violencia
y el ataúd se rompió

¿Qué hace mi hermana en el bosque?
Su fantasma salió de mis propias cenizas

Mi espada quiere beber de su sangre
y centellea con ardiente deseo

Mi madre es un viento que seca los árboles frutales

Y qué sabes tú de todo eso preguntaron sin voz

Los niños y las amapolas son inocentes
hasta en su maldad recitaron en coro

Ahora oigo sonar sus viejas caras
Las de mi madre y las de mi hermana

La tierra tiene piel y esa piel padece enfermedades
replicaron llorando

Es cierto hijo que eres una noche de oscuras risas
¿De dónde sacas lo que vomitas?

Sal de tus profundidades oye
Ahora el sol me derrite y los perros me lamen la piel

Eres un charco de muerte en las pesadillas
de los condenados al sueño me gritaron las brujas

Soy un charco de sueño en las pesadillas
de los condenados a muerte queridas

En este punto volvieron a decirme sin voz
¿Y qué sabes tú de todo eso?

Váyanse al mismo diablo les dije

Esta calle que baja no acaba nunca de bajar


Óscar Hahn


Mostro aqui mais uma tradução minha, em alguns momentos relativamente livre, do poeta chileno Óscar Hahn, cuja obra conheci e venho lendo desde o início deste ano. O poema sobre Nietzsche foi publicado no livro Versos Robados (1995), que abre com a sugestiva epígrafe: Todos os meus versos são alheios/Talvez sejam roubados. Em postagens anteriores, publiquei outras traduções desse poeta infelizmente ainda inédito no Brasil, às quais junto mais esta.

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