NIETZSCHE NO SANATÓRIO DA BASILEIA
Esta descida dura uma eternidade
Aqui se cozinham vivos os peixes dos sentidos
Chegou o tempo do descanso que não descansa
Quando os cães seguem santas e fantasmas
Então minha mãe e minha irmã resmungaram sem voz
E o que você sabe de tudo isso?
Duas vezes me enterraram nesse outono, mãe
De repente um furacão me afastou as asas com violência
e o caixão se abriu
Que faz minha irmã no bosque?
Seu fantasma nasceu de minhas cinzas
Minha espada quer provar seu sangue
e brilha ardente de desejo
Minha mãe é este vento que seca as árvores frutíferas
E o que você sabe de tudo isso, resmungaram sem voz
As crianças e as papoulas são inocentes
mesmo em sua maldade, recitaram em coro
Ainda ouço o matraquear daqueles rostos
O de minha mãe e o de minha irmã
A terra tem pele e essa pele está coberta de enfermidades
replicaram chorando
Escute filho, você é uma noite de risos macabros
De onde vem esse vomitório?
Vêm do fundo de tuas profundezas, escute
Agora derreto ao sol e os cães me lambem a pele
Você é um banhado de morte no pesadelo
dos condenados ao sonho, gritaram as bruxas
Sou um banhado de sonhos no pesadelo
dos condenados à morte, queridas
Então voltaram a resmungar sem voz
E o que você sabe de tudo isso?
Vão as duas pro inferno, respondi
Esta descida não acaba nunca
Tradução de Carlos Dala Stella
NIETZSCHE EN EL SANATORIO DE BASILEA
.
Mostro aqui mais uma tradução minha, em alguns momentos relativamente livre, do poeta chileno Óscar Hahn, cuja obra conheci e venho lendo desde o início deste ano. O poema sobre Nietzsche foi publicado no livro Versos Robados (1995), que abre com a sugestiva epígrafe: Todos os meus versos são alheios/Talvez sejam roubados. Em postagens anteriores, publiquei outras traduções desse poeta infelizmente ainda inédito no Brasil, às quais junto mais esta.
Esta calle que baja dura una eternidad
Aquí se cuecen vivos los grandes pensamientos
Ha llegado la hora del descanso en que no se descansa
Cuando los perros creen en santos y en fantasmas
En este punto mi madre y mi hermana preguntaron sin voz
¿Y qué sabes tú de todo eso?
Me han enterrado dos veces este otoño mamá
De repente el huracán me separó las alas con violencia
y el ataúd se rompió
¿Qué hace mi hermana en el bosque?
Su fantasma salió de mis propias cenizas
Mi espada quiere beber de su sangre
y centellea con ardiente deseo
Mi madre es un viento que seca los árboles frutales
Y qué sabes tú de todo eso preguntaron sin voz
Los niños y las amapolas son inocentes
hasta en su maldad recitaron en coro
Ahora oigo sonar sus viejas caras
Las de mi madre y las de mi hermana
La tierra tiene piel y esa piel padece enfermedades
replicaron llorando
Es cierto hijo que eres una noche de oscuras risas
¿De dónde sacas lo que vomitas?
Sal de tus profundidades oye
Ahora el sol me derrite y los perros me lamen la piel
Eres un charco de muerte en las pesadillas
de los condenados al sueño me gritaron las brujas
Soy un charco de sueño en las pesadillas
de los condenados a muerte queridas
En este punto volvieron a decirme sin voz
¿Y qué sabes tú de todo eso?
Váyanse al mismo diablo les dije
Esta calle que baja no acaba nunca de bajar
Óscar Hahn
Óscar Hahn
Mostro aqui mais uma tradução minha, em alguns momentos relativamente livre, do poeta chileno Óscar Hahn, cuja obra conheci e venho lendo desde o início deste ano. O poema sobre Nietzsche foi publicado no livro Versos Robados (1995), que abre com a sugestiva epígrafe: Todos os meus versos são alheios/Talvez sejam roubados. Em postagens anteriores, publiquei outras traduções desse poeta infelizmente ainda inédito no Brasil, às quais junto mais esta.
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