O coração da alcachofra
Li Desgracida em
São Paulo, de madrugada. A outra metade no final da manhã, ainda na cama.
Encantado com o peixe vivo no extremo de cada linha. Quanto mais curto o verso,
mais certeira a punhalada de lírios e rosas. E um espanto me rondando, como é
possível essa vivacidade ininterrupta, aguda de doçuras e espelhos?
Se o contista é uma alcachofra de folhas chupadas, o que
sobra no prato da página é o melhor: o coração da alcachofra. Quando antes um
ponto final tão lúcido na literatura brasileira? Só em Machado, mas nele faltou
a doçura que em Dalton matiza toda ironia.
E isso agora, essas cartas fechando o volume, mal traçadas
linhas? Só a primeira, dirigida a Pedro Nava, vale por uma oração. Vai nela um
elogio tão sincero, de grandeza tão desmedida, que nos vemos no encontro de dois
imensos rios. Do gênio do Negro e do Solimões, surge o Amazonas que nos banha a
todos.
E quando desce o ferro em O General em seu Labirinto? Só a ponta da lança, o veneno sem
adjetivo. Quanta distância dos cenográficos andaimes da crítica de jornal. No
lugar da pose, a auto-ironia de arara bêbada. No lugar do ventriloquismo
exibicionista, a pedrada contra a lei morta do silêncio.
A cada página de alegria tão desgracida, a certeza como um
tônico. Morar nessa cidade, sabendo que Dalton vive nela, redobra meu ânimo.
Incrédulos, que Belém que nada, o Amazonas passa por aqui.
2 comentários:
1)Muito bom esse retrato aí, hem!
2)De ontem para cá a notícia das tuas postagens tem aparecido no meu painel. Bom. Abração.
1)penei um bocado pra conseguir alguma coisa.
2)soube que esse serviço tinha sido cortado!? se ele voltou, melhor.
grato por me avisar e por continuar me visitando. abraço amigo
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