CHUVINHA FINA
chove manso
sem relâmpago e sem trovão
chove uma chuva de gato
no peitoril da janela
chuvinha fina
sobre os lírios e begônias
do jardim
sem relâmpago e sem trovão
chove uma chuva de gato
no peitoril da janela
chuvinha fina
sobre os lírios e begônias
do jardim
chove tão bonito de ver
e ouvir que dá vontade
de hibernar ao pé
do everest das cobertas
e nunca mais sair de lá
completamente esvaziado
dos sentidos do mundo
e ouvir que dá vontade
de hibernar ao pé
do everest das cobertas
e nunca mais sair de lá
completamente esvaziado
dos sentidos do mundo
senhor, obrigado
porque tirais os sentidos
do mundo ao menos
por um segundo
porque tirais os sentidos
do mundo ao menos
por um segundo
Carlos Dala Stella, do livro A ARTE MUDA DA FUGA/Editora POSITIVO
Essa tela faz parte de uma série que chamo provisoriamente de "gatos à janela, com flores". Não tenho mais nenhuma comigo. Menos de uma dúzia, outra dúzia de desenhos e colagens do mesmo tema. Nelas exercito a faceta mais lúdica de minha pintura, conforme fui percebendo depois. Porque na hora tudo são questões plásticas bem objetivas. Fora essa pressão que se exerce em nós quando pintamos, quase involuntariamente, pressão física de sentido, ainda que oculto, a que também chamamos personalidade.