A BELEZA DOS BICHOS
os bichos
que triste seria o mundo sem os bichos
que triste seria o mundo sem os bichos
como viver sem o silêncio voluntarioso
e elástico do gato
e elástico do gato
sem esses dois planetas de ternura
com que o cachorro nos vê
com que o cachorro nos vê
sem a delicadeza fragilíssima e alada
de um passarinho
de um passarinho
sem o espetáculo conciso e coordenado
de lentidão
da tartaruga da preguiça do jabuti
de lentidão
da tartaruga da preguiça do jabuti
e a galinha
com seus movimentos pasmos de perna e pescoço
bruscos de parvo pânico
com seus movimentos pasmos de perna e pescoço
bruscos de parvo pânico
e esses barulhentos besouros de carcaças secas
pendulando no ar
pendulando no ar
e o ilusionismo mudo dos vaga-lumes
o corpo metafísico dos grilos
o corpo metafísico dos grilos
triste da criança que não conhece
o aquário de milagres
que desliza sinuosamente nos olhos do peixe
o aquário de milagres
que desliza sinuosamente nos olhos do peixe
que não provocou, com um graveto
um curto-circuito
no carreiro de formigas carregadeiras
um curto-circuito
no carreiro de formigas carregadeiras
tenho tanta pena
do adulto que nunca viu a luz passando
pelo vitral das asas de uma libélula
do adulto que nunca viu a luz passando
pelo vitral das asas de uma libélula
sem os bichos
estaríamos muito mais sós
estaríamos muito mais sós
e a grandeza de deus
seria infinitamente menor
que a beleza ágil de uma lagartixa
seria infinitamente menor
que a beleza ágil de uma lagartixa
Carlos Dala Stella, do livro A Arte Muda da Fuga
O colagem do gatinho foi feita em um dos 40 cardápios da Aldeia do Beto, em Curitiba, do querido amigo Robert Amorim. Foram mais de quatrocentos desenhos e recortes originais, que devem estar por aí, espalhados pelo mundo.
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário