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Só são levados em consideração, hoje, os conteúdos socialmente constituídos, ou seja, formulados de prévio acordo com a sociedade. O indivíduo mesmo, por mais emancipado que seja, só se torna visível a partir do momento em que passa a fazer parte da imensa rede social, formatada mais e mais pela internet.
Não contribuir com a exploração pública de sua identidade pela rede significa descender ao submundo da invisibilidade, vala comum também ela prevista, ainda que a contragosto, por esse novo complexo social. Mas se antes a invisibilidade afetava o sujeito, cuja imagem de alguma forma tinha sido constituída e negada pelo círculo social, por mais estreito que este fosse, agora ela afeta a sombra futura desse sujeito. Mas paradoxalmente afeta também aquele que provavelmente nunca chegará a sê-lo, embora poste todos os dias no facebook, no twitter, no blog...
O socorro da margem não existe mais, assim como a condenação ao reino escuro das idiossincrasias, relegados ao jurássico século XX. Tudo pretende estar previsto no quadro formatado pelos gestores das redes, não só o que é, mas especialmente aquilo que está por vir.
Pobre de nós, condenados às miríades do presente, herdeiros de um passado de que sentimos falta, nós que temos pudor, que zelamos pela individualidade, mesmo que nos digam que ela não vale grande coisa, que não sabemos o que fazer dela a maior parte do tempo, e que estamos bem assim, mesmo que estejamos mal. Pobre de nós que não queremos fazer parte de nenhum conglomerado, de nenhuma associação, aqueles que não se conformam às redes, às cercas, às grades. Aqueles para quem a economia nunca é criativa e o intangível existe desde sempre, como o ar que respiramos. Pobre de nós que preferimos os amigos mortos aos amigos virtuais, que vivemos de encontros e desencontros presenciais, nós para quem o vento no rosto é o paraíso, ou um temporal se armando.
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