Com o passar do tempo algumas pessoas ficam doces, algumas, não a maioria - a maioria, como acontece com o leite, azeda. Ficaram doces o poeta Mario Quintana, minha nona Iza, o geógrafo Milton Santos... É surpreendente como a doçura ganha pouco a pouco algumas pessoas, até transbordar. Cada vez que vejo e ouço Paulo Venturelli sinto isso. E fico bobo de ver como o inspirado, o inconformado, o outrora intempestivo amigo foi se enchendo de doçura, sem que com isso ficasse comprometido um tico de sua inspiração, sem perder nada de seu inconformismo crítico, sem que seus arroubos barroco-diluvianos deixassem de nos inundar com um mar de vigor. Mesmo quando põe o dedo na ferida - quantas vezes ouvi dele essa expressão! - o Venturelli de hoje não consegue disfarçar nos olhos o doce que lhe vai dentro. É desse híbrido que sua literatura se alimenta cada vez mais. Veja o título desse livro: Admirável Ovo Novo, vai nele três vezes a ênfase positiva que o autor sempre pôs em tudo o que escreve, e vai doçura dirigida à criança que nunca morreu em nós.
2 comentários:
Belíssimo texto... capturou a alma gemada de Paulo. Foi bom finalmente ter conhecido você. Prazer ler seu blog! Susan Blum
Conheço o Paulo há tanto tempo, é realmente um prazer escrever uma linha sobre ele - que merece infinitamente mais...
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