Sábado próximo, dia 16, às 16h, Paulo Venturelli lança na Livraria Cultura seu livro PÊ E O VASTO MUNDO, pela Editora Positivo. O livro é ilustrado pela iraniana Fereshteh Najafi, que vem ao Brasil especialmente para o lançamento.
Transcrevo a seguir e-mail meu, a pedido do próprio Venturelli, sobre nossa amizade e uma pequena parcela do que penso da grandeza de seu trabalho.
De: Carlos Dala Stella [mailto:cdalastella@yahoo.com.br]
Enviada em: quinta-feira, 16 de abril de 2015 21:07
Para: Paulo Venturelli
Assunto: contentamento
Enviada em: quinta-feira, 16 de abril de 2015 21:07
Para: Paulo Venturelli
Assunto: contentamento
Paulo, querido
Fico
muito contente com a repercussão de teus livros, cada vez mais fazendo
parte da identidade artística do país, e mesmo social, já que quando
inventamos estamos envolvidos por esse acordo sempre cambiante a que
chamamos realidade. Aos poucos, mas agora de modo irreversível, o que
você imagina aí, em sua biblioteca, vai ganhando o Brasil, virando a
realidade diária de outras pessoas, que te leem e estudam. Nada mais
merecido, num país de tanto desmerecimento, especialmente pra quem vive
fora do eixo - que felizmente, se descentra.
O merecimento do sucesso é todo teu. Ele se deve à qualidade de teu trabalho, 'desde sempre', mas também a tua persistência, dedicação, a esse envolvimento meio religioso com a literatura. Curitiba quase sempre atrapalha, e dá gosto ver como você continuou, vencendo o atrapalho, até que Curitiba se abrisse um tiquinho. Vejo teu caso como uma vitória do sonho, que em algum momento precisa de outros pra se viabilizar por inteiro. Em teu caso, essas parcerias vieram, e elas são merecedoras de uma parcela do que te acontece agora.
Nos vemos tão pouco, me ressinto disso, como agora. Mas sinto que estamos perto um do outro, atentos, admirados, desejosos de espanto. Essa exposição generalizada de uma meia dúzia de nomes, às vezes merecedores das luzes, repercutida pela mídia, um pouco pela universidade, por tantas feiras e festivais, pela internet mais rala, ela reduz drasticamente a riqueza tão grande e diversa de nossa imaginação. Fico tão contente quando alguém querido fura esse bloqueio, quebra a pauta. É como se finalmente o Brasil passasse a merecer aqueles que custam tanto a vir a ser o que finalmente acabaram sendo, essa maravilha de individualidade. A verdade está na riqueza de nossa diversidade criativa, não nesse jogo de grandezas, que se deve mais à política da cultura do que à literatura de fato.
Fico lembrando de nossos primeiros encontros, no alto da Brigadeiro Franco, Pink Floyd, caixas de maçã na sala, café e pão com manteiga madrugada adentro, você lendo dezenas e dezenas de meus poemas, todas as semanas,e comentando um a um, fora as indicações de leitura. Lembro com um carinho danado, sem saber como agradecer tanta pertinência e generosidade. Mesmo que eu agradeça sempre, nunca vai ser suficiente. Você está entremeado, quando lembro dessa época, à foto enorme do Henry Miller, no fundo do corredor, à sensação física que o poema me provocava, palavras vivas na mão como peixes recém-saídos d'água, ao menino Gigio chispando de um lado pro outro, a amuletos ou esculturas de pedra sabão (de Ouro Preto?) na parede, e àquela janela se abrindo para um dos grotões escuros de Curitiba. A doçura lá de dentro, de nossos encontros, é ela que sinto na minha vida ainda hoje, desdobrada nos filhos, na neta, e em minha poesia, que silenciosa e anonimamente vai pingando.
Quantas vezes durante todos esses anos não pensei em mostrar um trabalho pra você, em dividir uma alegria, que quase sempre tive que acabar engolindo sozinho. Mesmo você aí no Bacacheri e eu aqui, em Santa, converso sempre contigo. Estou terminando um livro que você me deu há anos, Dia e Noite, da Virgínia Woolf, que só agora consegui ler, e todos os dias leio o marcador, um cartão seu, falando dessa nossa proximidade de alma. Fora a dedicatória, com tua letra veloz. Quero dizer que ao agradecimento e ao carinho de antes, vou somando cada vez mais o orgulho de ser seu amigo. E de ver como você está se colocando no mundo, docemente, mas sem concessões. Você faz parte do Brasil que já deu certo, a anos luz dessa nossa política comezinha. Quando falam em ano perdido, recessão, esquecem da imensa riqueza de nossa inventividade, já formalizada em livros, música, esculturas, desenhos, dança - maravilhosos. Nosso corpo cultural é de tal maturidade que vai demorar décadas para que o país consiga absorver a parcela mais significativa dele. Temo, como já acontece, que sejamos mais e mais visíveis lá fora do que aqui dentro.
Te mando um abraço cheio de contentamento. Quando a coisa apertar, não desista sequer por um segundo, vou estar pensando em você e te mandando meu carinho.
Dê um beijo na Líbera, imagino que ela também esteja muito contente.
carlos
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