domingo, 29 de janeiro de 2017

ENIGMAS


olho pro céu e vejo o incompreensível
olho pro quintal e vejo vaga-lumes
piscando o silêncio úmido da noite

na laranjeira junto ao quarto
um luze-lume acende a laranja e apaga

como é vasto o desconhecido
desconheço cada partícula de minha vastidão

o que eu sei faz silêncio em mim
desde antes de eu nascer

em minha ignorância sempre cabe mais um espanto

a noite é comigo
e eu sou uma multidão de desconhecidos

esses cachorros devo ser eu latindo a escuridão

à noite ausculto o mundo da janela
as árvores tão paradas
é assombroso e incompreensível

os primneiros pingos da chuva são partículas
de milagre que despencam do céu

a natureza só existe em polifonia

os primeiros pingos nas folhas
prometem um paraíso de ingenuidades

a cada noite que passa morro um pouco
e o pouco que sobra mais me vivifica

é tanto desencontro de beleza
que eu não caibo em mim

se eu soubesse chover dormiria menos aflito

sem o disfarce da repetição como suportaríamos
esse entorno contínuo de fatalidades?

de madrugada passo horas à janela
pasmo das ternuras que perdi

contemplar é mil vezes mais atento
e silencioso do que se distrair

desde criança a chuva me fascina
os vaga-lumes me iluminam
e a noite me desperta os enigmas

inédito de Carlos Dala Stella

3 comentários:

Unknown disse...

Amei esse poema....enquanto lia iam se formando imagens que me levavam hora a memórias, hora a fantasias...obrigada ��

Unknown disse...

Amei esse poema....enquanto lia iam se formando imagens que me levavam hora a memórias, hora a fantasias...obrigada ��

carlos dala stella disse...

Grato, Clélia. Fico contente que você tenha gostado. Ele acabou de sair na revista Contemporartes, da UFABC. E logo logo sai em livro. Abraço