domingo, 31 de maio de 2009

Painel de Cimento e Vidro


 

Em fevereiro ou março deste ano instalei um painel de cimento e vidro que chamei, provisoriamente, de o escultor, ao qual me dediquei desde novembro de 2007, quando recebi a encomenda de Sônia e Jean Féder.


Comecei fazendo pequenos esboços a grafite e carvão da idéia inicial: o escultor finalizando sua obra. Com uma perna dobrada, ele concentra-se no trabalho, as mãos levantadas sobre a cabeça. Uma metamorfoseada em martelo, outra em ponteiro. A escultura, que ele está prestes a tocar, nasceu de minha admiração pelo dançarino norte-americano Merce Cunningham. O que me moveu foi o desejo de recuperar a energia concentrada em seu movimento corporal. Enquanto o dançarino-equilibrista está completamente iluminado, o escultor é cortado por uma luz diagonal.


Como desdobramento desses esboços fiz um desenho a carvão em tamanho natural, 230x113 cm. A partir desse material trabalhei durante meses nos estudos em isopor sobre ambos os lados da placa de vidro, já jateada, definindo principalmente os volumes, mas também as linhas de força de ambas as figuras.


Só então fundi as peças, quase cinquenta, como um puzzle assimétrico. Soldei então uma a uma, no vidro, primeiro de um lado, depois do outro. Até que o painel finalmente ganhou corpo. O resultado é o que se pode ver nas duas fotos acima, uma no ateliê, recém-fundido, e outra já instalado, na casa do casal amigo.


É com apreensão que acompanho a instalação de um trabalho novo. Ele me parece sempre muito mais frágil do que o material empregado faz supor. Essa sensação de fragilidade, eu convivo com ela desde o início, como com meu nome, ou com a consciência da temporalidade.


Outro temor diz respeito à luz. Nunca começo um painel de cimento e vidro sem estudar o lugar em que ele vai ser instalado, as principais perspectivas de visão e, mais do que tudo, a luz que insidirá sobre ele. Mesmo assim morro de medo de que a luz não faça sua parte, por um erro de cálculo meu, lá no início do processo.






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