quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sobre o Silêncio

Cinema mudo

Quando selo os ouvidos com silicone ou outro produto qualquer, vivo num mundo de cinema mudo, e ele misteriosamente passa a fazer sentido.


Bach

Bach trata o silêncio que envolve sua música com um zelo e cuidado somente igualável àquele que dedica a suas árias, partitas, fugas...


Barulho para nada

Os seres humanos são insuportavelmente ruidosos, como se existir fosse para fora, não para dentro. Esse barulho todo não serve para nada, a não ser para irmanarmo-nos com outros idiotas.

Um comentário:

Claudia Cavalheiro disse...

a palavra e o silêncio...

Antes, no início, era o silêncio feminino
veio a palavra e o frigiu, perfurou
feriu como pedrinha à água
e turvou de som o silêncio

depois veio com mais tempo
e participou dele qual sua concubina

a palavra caiu no silêncio
desenhou-lhe um sulco
e fez-se eco
que é uma pequena fricção no silêncio -
agora masculino –
e, claro, excitou-o
uma irrigação sangüínea
bombeando seu coração mudo de espanto

palavra e silêncio
casamento em eterna dissolução
a cama e o lençol de cetim
ubiqüidade

silêncio sempre quieto
a palavra como estorvo
como fada
namorada
ou bico de corvo

às vezes tão tênue
quase não se escuta, sussurro...
já é noite e o silêncio quer
ficar em silêncio
olhando a lua

as palavras de manhã, quando ele tem fome, são nutritivas, saborosas, crocantes
logo, quando muitas, embotam
e ele se mareia

boas são as sazonais, mas nem tanto

as que causam espécie
e as que se digerem por si mesmas
as que são carícia, as melhores
não acordam o silêncio
tateiam-no,
fazendo com ele origami,
e são música de ninar...

c.c.ortiz