Traduzo mais um excerto do filósofo romeno Cioran, agora retirado da entrevista concedida a Luis Jorge Jalfen, em 1982. E não consigo deixar de pensar nesse mar de telas que simultaneamente nos conectam e nos isolam uns dos outros.
SOLIDÃO
A catástrofe, para o homem, é que ele não consegue ficar sozinho. Não há sequer uma pessoa que consiga ficar só consigo mesma. Atualmente, todos os que deviam viver consigo mesmos se apressam em ligar a televisão ou o rádio. Acredito que se um governo acabasse com o televisor, os homens se matariam uns aos outros nas ruas, porque o silêncio os aterrorizaria. Antigamente, as pessoas ficavam muito mais tempo consigo mesmas, durante dias e meses, mas hoje isso não é mais possível. É por isso que se pode dizer que a catástrofe está aí, que nós vivemos catastroficamente.
SOLITUDE
La catastrophe, pour l’homme, vient du fait qu’il ne peut rester seul. Il n’y a pas une seule personne qui puisse rester seule avec elle-même. Actuellement, tous ceux qui devraient vivre avec eux-même s’empressent d’allumer le téléviseur ou la radio. Je crois que si un gouvernement supprimait la télévision, les hommes s’entre-tueraient dans la rue, parce que le silence les terroriserait. Dans un lointain passé, les gens demeuraient beaucoup plus en contact avec eux-mêmes, pendant des jours et des mois, mais à présent, ce n’est plus possible. C’est pour cela que l’on peut dire que la catastrophe s’est produite, que nous vivons catastrophiquement.
Tradução: Carlos Dala Stella
2 comentários:
Por um lado a solidão subjetiva, do outro o desacompanhamento coletivo. Seria, talvez, dois sintomas de um mesmo mal. Mas ainda me pergunto se a solidão não seria possível apenas na consciência, ou na subjetividade - como dizem alguns - o que demonstraria um mundo sem consciência, no sentido individual. Um mundo ermo.
Lucas, obrigado por seu comentário tão pertinente. Ele me fez escrever o post SOLIDÃO EM REDE. Abraço.
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