sábado, 23 de abril de 2011

Óscar Hahn 5

Apresento aqui mais uma tradução do poeta chileno Óscar Hahn, que sigo lendo desde que estive no Chile no início do ano.

Na entrevista que serve de introdução ao livro Archivo expliatorio, poesías completas (1961-2009), ele conta que descobriu a poesia não em sala de aula, nem através um professor, mas ao acaso, na biblioteca da escola, ao folhear um volume de poemas medievais sobre a morte. Conta ainda que tem gravado na memória desde muito pequeno a imagem da mãe, de óculos, lendo um livro atrás do outro.  


VAZIOS QUE RESPIRAM


Alguém dormia a meu lado
mas se não havia ninguém
sentia sua respiração ritmada
mas se havia só o espaço vazio
Ignoro se era homem ou mulher
ou sei lá que criatura
Só sei que respirava a meu lado

O mundo está cheio
de vazios que respiram
que  espreitam,  palpitam
O que respiram esses vazios?
Oxigênio não é, porque o oxigênio serve
para encher de ar os pulmões
e eles não têm pulmões
não têm boca nem fossas nasais
nem parte alguma do corpo

Deitado ao meu lado
o vazio de agora
se vira e revira, inquieto
como se lutasse para não sufocar
Esse é o melhor momento para suplicar
que os vazios não nos abandonem
que continuem sempre a nosso lado
respirando



VACÍOS QUE RESPIRAN


Sentí que alguien dormía a mi lado
pero no había nadie
sentí su respiración acompasada
pero había un espacio vacío
Ignoro si era hombre o mujer
o bestezuela o no sé qué
Sólo sé que respiraba a mi lado

El mundo está lleno
de vacíos que respiran
que observan que palpitan
¿Qué respirarán estos vacíos?
No es oxígeno porque el oxígeno sirve
para llenar de aire los pulmones
no ellos no tienen pulmones
no tienen boca ni fosas nasales
ni parte alguna del cuerpo

Ahora el vacío
que está tendido junto a mi
se da vueltas inquieto
como si luchara con la asfixia
Y es entonces cuando hay que rogar
porque  los vacíos no nos abandonen
porque sigan siempre a nuestro lado
respirando

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