sábado, 26 de março de 2011

Menino


Esse menino primeiro foi um grafismo com nanquim. Depois uma série de gravuras em serigrafia. Depois ainda um menino de cimento soldado numa placa de vidro. E finalmente chegou a esse painel pintato com acrílica e escrito com cimento. Foi quando nasceu meu primeiro filho. Lá pelos três anos, lembro de vê-lo, de costas, desenhando peixes nos vidros da janela embaçada. Escrevi isso no painel, em espelho. Escrevi no cimento, como fiz depois, com o nascimento de meu segundo filho. Acho que era um poema que não vingou.

Ficaram esses fragmentos no cimento. Mas o prazer ensolarado de vê-lo está lá, de braços abertos pra melhor sentir o ar fresco do mundo amanhecendo.
Pouco importa se o menino desenha nos vidros da janela ou da porta, se desenha peixes ou pombas, se tem dois ou três anos. Pouco importa se o menino-grafismo veio antes do menino que desenha na sala, com o dedo, soprando no vidro seu bafo quente. O que importa é que o tempo funde tudo num único sentimento. E que esse sentimento às vezes se manifesta, na maioria das vezes não. Faltam palavras, falta sopro de vida ao cimento.
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