terça-feira, 15 de março de 2011

Óscar Hahn

Passei os primeiros dias do ano no Chile, com minha namorada. Na livraria Qué Leo, de Santiago, na sessão de poesia, topei com Óscar Hahn, poeta chileno nascido em 1938, em Iquique. Hesitei, o preço era salgado. Mas acabei trazendo o Archivo expiatorio, Poesías completas (1961-2009).
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Ainda entre as prateleiras, de pé, folheando o livro, procurava ouvir com atenção o que aquela voz me soprava. Tenho uma dificuldade enorme em ler poesia em lugar público, frequentemente não entendo nada. Mas alguns fragmentos me diziam que ali havia uma mina d'água.
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Só mais tarde, em casa, no silêncio das madrugadas, compreendi a dimensão do poeta que me fisgara na livraria. Em tudo oposto a Neruda: conciso, reflexivo, muitas vezes sobrenatural ou surrealista, nunca grandiloquente, verdadeiro como uma pequena concha, trazida pelo mar aberto. Não um falso Midas, mas Sísifo como todos nós.
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Traduzo aqui, como exercício, um de seus poemas, retirado do livro Apariciones Profanas (2002-2005).
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Violino
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Essa árvore
guarda dentro um violino
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Não esculpido ainda, mas nela contido
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A espera do dia da ressurreição
dentro da árvore
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Disse o senhor Stradivarius:
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Preciso salvar esse violino
tirar a casca que o aprisiona
e deixá-lo respirar ao ar livre
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Quero ouvi-lo cantar para mim
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Esse violino
guarda dentro uma árvore
guarda flores que ouvem a música suave
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e guarda passarinhos
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Violín
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Ese árbol
tiene um violín adentro
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No fue tallado aún pero está adentro
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Espera el día de la resurrección
árbol adentro
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Dijo el señor Stradivarius:
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Tengo que rescatar a ese violín
tengo que quitarle la corteza que lo aprisiona
y verlo respirar al aire libre
.

Tengo que oírlo cantar para mí
.

Ese violín
tiene um árbol adentro
tiene flores que escuchan la música callada
.

Tiene pájaros
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