quarta-feira, 30 de março de 2011

Óscar Hahn 4

Passei os primeiros dias do ano no Chile, com minha namorada. Na livraria Qué Leo, de Santiago, na sessão de poesia, topei com Óscar Hahn, poeta chileno nascido em 1938, em Iquique. Hesitei, o preço era salgado. Mas acabei trazendo o Archivo expiatorio, Poesías completas (1961-2009).

Ainda entre as prateleiras, de pé, folheando o livro, procurava ouvir com atenção o que aquela voz me soprava. Tenho uma dificuldade enorme em ler poesia em lugar público, frequentemente não entendo nada. Mas alguns fragmentos me diziam que ali havia uma mina d'água.

Só mais tarde, em casa, no silêncio das madrugadas, compreendi a dimensão do poeta que me fisgara na livraria. Em tudo oposto a Neruda: conciso, reflexivo, muitas vezes sobrenatural ou surrealista, nunca grandiloquente, verdadeiro como uma pequena concha, trazida pelo mar aberto. Não um falso Midas, mas Sísifo como todos nós.

Traduzo aqui, como exercício, novo poema de Óscar Hahn, do livro En un abrir y cerrar de ojos.


FALCÕES

Os falcões noturnos
com grandes olhos negros

te enxergam, mas não os vês
te espreitam, mas não o sabes

até que um dia desses
acordas na cama e vês

dentro de tua cabeça
os falcões voando, sem asas


HALCONES

Los halcones de la noche
con ojos negros y grandes

te miran y no los ves
te espían y no lo sabes

hasta que un día cualquiera
te despiertas en la cama

y adentro de tu cabeza
los ves volando sin alas

Tradução de Carlos Dala Stella

Nenhum comentário: