Ainda entre as prateleiras, de pé, folheando o livro, procurava ouvir com atenção o que aquela voz me soprava. Tenho uma dificuldade enorme em ler poesia em lugar público, frequentemente não entendo nada. Mas alguns fragmentos me diziam que ali havia uma mina d'água.
Só mais tarde, em casa, no silêncio das madrugadas, compreendi a dimensão do poeta que me fisgara na livraria. Em tudo oposto a Neruda: conciso, reflexivo, muitas vezes sobrenatural ou surrealista, nunca grandiloquente, verdadeiro como uma pequena concha, trazida pelo mar aberto. Não um falso Midas, mas Sísifo como todos nós.
Traduzo aqui, como exercício, novo poema de Óscar Hahn, do livro En un abrir y cerrar de ojos.
FALCÕES
Os falcões noturnos
com grandes olhos negros
te enxergam, mas não os vês
te espreitam, mas não o sabes
até que um dia desses
acordas na cama e vês
dentro de tua cabeça
os falcões voando, sem asas
HALCONES
Los halcones de la noche
con ojos negros y grandes
te miran y no los ves
te espían y no lo sabes
hasta que un día cualquiera
te despiertas en la cama
y adentro de tu cabeza
los ves volando sin alas
Tradução de Carlos Dala Stella
Nenhum comentário:
Postar um comentário