terça-feira, 22 de março de 2011

rio abaixo

r.

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em meio à correnteza

murmurantes florações de pedra

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nó de raízes na barranca

a ponta dos dedos n’água

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chifres lunares afloram à superfície

uma manada atravessa o vau

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no céu uma garça branca

gibóia no galho da secóia

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entre peixes e seixos

a líquida membrana do sol

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silêncio no topo do arvoredo

a elocução do remo rio abaixo

..

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do livro O caçador de vaga-lumes (1998)


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2 comentários:

aveloh disse...

Veja que interessante: cada estrofe desse poema é rigorosamente um haicai, se é que eu chego a entender realmente o que seja um haicai (acho que sim), coisa que me parece não muito fácil de se realizar.
Abraço.

carlos dala stella disse...

Você está certa. O livro todo vai nessa levada. São dísticos encadeados como no renga japonês. Em artes plásticas eu chamaria isso de colagem. Embora o sentido do poema esteja no conjunto, separadamente cada dístico tem relativa autonomia.
Abraço