segunda-feira, 31 de agosto de 2015
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
Óscar Hahn 9
Do poeta chileno, Mario Vargas Llosa disse: " A obra poética de Óscar Hahn é magnífica e verdadeiramente original, além de ser a mais pessoal que li em língua espanhola em muito tempo".
Do livro Los espejos comunicantes, publicado na Coleção Visor em 2014, traduzo o poema Solidão, inspirado na belíssima canção de Duke Ellington. Vale lembrar que além de temas clássicos, como a solidão, o amor, a morte e o tempo, Óscar Hahn tem se dedicado cada vez mais a temas caros à atualidade, como consumismo, ecologia, energia nuclear e mesmo a celebridades da música pop, sempre com uma lucidez poética perturbadora.
SOLIDÃO
In my solitude you haunt me
with
reveries of days gone by
música
de Duke Ellington
Não está sozinha
minha solidão:
está comigo
Onde quer que eu vá
ela vai ao meu lado
dorme em minha cama
come na minha mão:
respira
o mesmo ar que
respiro
Fala com minha voz
caminha com minhas
pernas
sente tudo que eu
sinto
Uma única vez se
afastou
minha solidão
me abandonou: sumiu
Nessa tarde conheci
a mulher da minha
vida
Meses e meses longe
de minha solidão
Noites a fio junto
a meu grande amor
ocupando o espaço
vazio
de meu desamparo
Até que um dia tudo
acabou
como sempre acabam
os amores eternos:
num piscar de olhos
E agora que volto
para casa
minha solidão me
recebe
de braços abertos
sem uma palavra
sequer uma crítica
Apenas me abraça:
consoladora
e chora comigo
Tradução de Carlos Dala Stella
SOLITUDE
In my
solitude you haunt me
with
reveries of days gone by
Música
de Duke Ellington
Mi soledad no está
sola:
está conmigo
Me acompaña
dondequiera
que voy: duerme en
mi cama
come de mi mano:
respira
el aire que respiro
Me habla con mi voz
camina como yo
camino
siente lo que yo
siento
Sólo una vez mi
soledad
se alejó de mi lado
me abandonó: partió
Fue esa tarde que
conocí
a la mujer de mi
vida
Meses y meses sin
mi soledad
noche tras noche
con mi gran amor
ocupando el espacio
de mi desamparo
Hasta que un día
todo terminó
como siempre
terminan
los amores eternos:
en un abrir y
cerrar de ojos
Y ahora
he regresado a mi
casa
Mi soledad me
recibe
con los brazos
abiertos
no me dice nada
no me reprocha nada
me abraza me consuela
Llora conmigo
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Óscar Hahn 8
Sigo lendo o chileno Óscar Hahn (vencedor em 2014 do Prêmio Loewe de Poesia, na Espanha). Por dois motivos, principalmente: porque ele entra nos temas de um modo tão direto que entramos juntos, sem hesitação; e também porque mal entramos, esses temas nos afligem como se fossem nossos. Nem a ironia, nem o insólito de algumas imagens são capazes de nos afastar de nós mesmos. Que mais pode querer um autor do que essa fusão espelhada com o leitor?
NA PRAIA NUDISTA DO INCONSCIENTE
Um
homem está deitado na praia nudista
do inconsciente
quando
surgem na noite dois sóis
A
metade mulher do homem corre graciosamente
para o mar
A
metade homem caminha pela orla
Na
praia nudista do inconsciente
as
duas metades se banham de mãos dadas
O
sol negro sobe no horizonte
O
sol branco desce vermelho incandescente
A
mulher e o homem fazem amor até a vertigem
Seus
corpos lutam sobre a areia fosforescente
E
o firmamento se enche de meteoritos
que
se deslocam à velocidade da luz
Tradução de Carlos Dala Stella
EN
LA PLAYA NUDISTA DEL INCONSCIENTE
Un
hombre está tendido en la playa nudista del
inconsciente
a
esa hora de la noche en que salen dos soles
La
parte mujer del hombre corre graciosamente hacia el
agua
La
parte hombre camina en dirección a la orilla
En
la playa nudista del inconsciente
las
dos partes se bañan tomadas de la mano
El
sol negro se alza en el horizonte
El
son blanco se pone al rojo vivo
La
mujer y el hombre hacen amor hasta el vértigo
Sus
cuerpos luchan en la arena fosforescente
Y
el firmamento se llena de aerolitos
que
se desplazan a la velocidad de la luz
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
O MAGO DO VIOLÃO
Agustín Pío Barrios Ferreyra nasceu em 5 de maio de 1885, quase certamente em San Juan Bautista de las Missiones, Paraguai. Reconhecido como o maior compositor para violão de todos os tempos, a partir de 1928 passou a usar o pseudônimo Nitsuga Mangoré; Nitsuga, Agustin ao reverso, e Mangoré como homenagem a um cacique Guarani, fuzilado por raptar uma espanhola por quem estaria apaixonado. A partir de então, para atrair a assistência, apresentou-se seguidamente paramentado como índio guarani.
Foi o primeiro a gravar discos de violão, em torno de 40, a partir de 1915, quinze anos antes do primeiro registro de Andrés Segóvia. Além de compositor inigualável, foi intérprete genial, poeta e refinado desenhista. Depois de percorrer boa parte da América do Sul e América Central, além de algumas cidades da Europa, morreu em San Salvador, em 1944. Apesar das dificuldades de se fazer ouvir enquanto vivo, hoje Mangoré é tocado em todos os cantos do mundo, por quem estuda violão, e ouvido com o mesmo misto de reverência e espanto com que se ouve João Sebastião Bach.
O BOÊMIO
Como
giro rápido! Sou cata-vento,
movido
pelos impulsos do destino
vou dançando
em louco torvelino
planeta
afora, junto aos quatro ventos.
Em
mim, no cerne de uma vida inquieta,
vai este
vagar incerto e peregrino
e a
arte alumiando o caminho
como
facho de um fantástico cometa.
Sou irmão
em glória como em dores
daqueles
mesmos medievais trovadores
que
padeceram romântica loucura.
Como
eles, quando eu estiver morto,
só Deus
sabe em que distante porto
encontrarei
minha áspera sepultura!
Tradução de Carlos Dala Stella
EL BOHEMIO
Que
moviéndose a impulsos del destino
Va
danzando en loco torbellino
Hacia
los cuatro vientos del planeta.
Llevo
en mí el plasma de una vida inquieta
Y en
mi vagar incierto, peregrino,
El
Arte va alumbrando mi camino
Cual
si fuera un fantástico cometa.
Yo soy hermano en gloria y en dolores
De
aquellos medievales trovadores
Que
sufrieron romántica locura.
Como
ellos, también, cuando haya muerto,
!Dios
solo sabe en qué lejano puerto
Iré
a encontrar mi tosca sepultura!
Agustín Barrios Mangoré
Agustín Barrios Mangoré
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Emily Dickinson / 4
Poucas admirações do passado continuam, duas ou três aumentam. Emily Dickinson é das que leio cada vez mais atentamente, tanto pelo mecanismo preciso e inesperado de seus poemas, como pela sua personalidade. E mais do que tudo pelo descarnado de seu olhar sobre o mundo, contrito de belezas. Basta um único de seus poemas para que eu mergulhe nesse experimento de linguagem tão conectado à vida como o próprio corpo, como o próprio sonho.
1149
Percebi que as pessoas
sumiam
Ainda criança
pequena –
Viajavam para
longe, supunha
Ou se mudavam para
Regiões selvagens –
Agora compreendo –
elas viajavam
De mudança para
Regiões selvagens –
Mas porque estavam
mortas
Fato velado à
criança pequena –
I noticed People disappeared
When but a little child -
Supposed they visited remote
Or settled Regions wild -
Now know I - They both visited
And settled Regions wild -
But did because they died
A Fact withheld the little child -
When but a little child -
Supposed they visited remote
Or settled Regions wild -
Now know I - They both visited
And settled Regions wild -
But did because they died
A Fact withheld the little child -
Tradução de Carlos Dala Stella
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