terça-feira, 5 de abril de 2011
Que saudade de Hilda Hilst!
segunda-feira, 4 de abril de 2011
dor intensa
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Majik Mahgid, a história de um rosto
Da primeira à última folha, esse rosto vai se desfolhando em quatro movimentos maiores, como num andamento sinfônico, correspondentes a quatro facetas, que ora surgem entre fendas e retângulos, ora se desfazem fragmento a fragmento, até se abstratizarem e assumirem nova expressão.
A idéia me veio de um sonho, lá em setembro de 2003, como tantas vezes antes. Acordei com o título e o que viriam a ser estas imagens rondando na cabeça. Mostro aqui 3 das 180 páginas.
quarta-feira, 30 de março de 2011
Óscar Hahn 4
Ainda entre as prateleiras, de pé, folheando o livro, procurava ouvir com atenção o que aquela voz me soprava. Tenho uma dificuldade enorme em ler poesia em lugar público, frequentemente não entendo nada. Mas alguns fragmentos me diziam que ali havia uma mina d'água.
Só mais tarde, em casa, no silêncio das madrugadas, compreendi a dimensão do poeta que me fisgara na livraria. Em tudo oposto a Neruda: conciso, reflexivo, muitas vezes sobrenatural ou surrealista, nunca grandiloquente, verdadeiro como uma pequena concha, trazida pelo mar aberto. Não um falso Midas, mas Sísifo como todos nós.
Traduzo aqui, como exercício, novo poema de Óscar Hahn, do livro En un abrir y cerrar de ojos.
terça-feira, 29 de março de 2011
domingo, 27 de março de 2011
Óscar Hahn 3
tradução: Carlos Dala Stella
sábado, 26 de março de 2011
Menino
Esse menino primeiro foi um grafismo com nanquim. Depois uma série de gravuras em serigrafia. Depois ainda um menino de cimento soldado numa placa de vidro. E finalmente chegou a esse painel pintato com acrílica e escrito com cimento. Foi quando nasceu meu primeiro filho. Lá pelos três anos, lembro de vê-lo, de costas, desenhando peixes nos vidros da janela embaçada. Escrevi isso no painel, em espelho. Escrevi no cimento, como fiz depois, com o nascimento de meu segundo filho. Acho que era um poema que não vingou.
Ficaram esses fragmentos no cimento. Mas o prazer ensolarado de vê-lo está lá, de braços abertos pra melhor sentir o ar fresco do mundo amanhecendo.
Pouco importa se o menino desenha nos vidros da janela ou da porta, se desenha peixes ou pombas, se tem dois ou três anos. Pouco importa se o menino-grafismo veio antes do menino que desenha na sala, com o dedo, soprando no vidro seu bafo quente. O que importa é que o tempo funde tudo num único sentimento. E que esse sentimento às vezes se manifesta, na maioria das vezes não. Faltam palavras, falta sopro de vida ao cimento.
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sexta-feira, 25 de março de 2011
Barcelona de Gaudí, Curitiba de Poty
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Fiquei surpreso por constatar como figuras como essa mais do que emprestar seus traços à fisionomia de uma cidade, no limite passam a substituí-la. Para oito em dez turistas, embora continue dona de um corpo pleno de atributos particulares, Barcelona reduz-se - ou amplia-se, o que é ainda mais surpreendente - às obras arquitetônicas de Gaudí. Daí a uma imagem subjetiva e generalizante da cidade, sob o impacto dessa personalidade catalã originalíssima, vai apenas um passo.
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Se de um lado Barcelona parece extremamente generosa, porque permite que novos traços vão sendo incorporados à sua identidade sempre em expansão, por outro é preciso lembrar que só é possível tomar parte no corpo urbano à força de uma reivindicação poderosíssima. Não conta muito para essa conquista o poder instituído nomear uma praça, uma rua ou uma escola de engenharia com o nome de A. Gaudí. Mais do que qualquer dessas merecidas homenagens, suas obras é que conquistaram o direito de ampliar o imaginário da cidade, e fizeram isso à força, desprezando, por exemplo, o esquadrinhamento cartesiano das vias que circundam a Sagrada Famíla, o que ressalta ainda mais sua irregularidade quase monstruosa. Mas principalmente se batendo contra o projeto de arejamento que está na origem da arquitetura moderna.
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É certo, porém, que Barcelona aprendeu bem a lição, como provam o inquietante confronto entre o edifício do Colégio dos Engenheiros da Catalunha, de um lado da rua, e a Catedral Gótica, do outro, símbolo do confronto, mas também do convívio, entre a arquitetura gótica e a moderna naquela cidade.
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Embora Oscar Niemeyer seja indiscutivelmente responsável por alguns traços fundamentais da fisionomia do Brasil, especialmente no exterior, seu nome está mais ligado à Brasília do que a qualquer outra cidade brasileira, incluídas aí Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.
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Curitiba, que não possui um fisionomia arquitetônica particular, e que aprendeu a se contentar com os arremedos do mestre carioca, tem que procurar em outras áreas aqueles nomes que lhe emprestam identidade. Poty é sem dúvida um deles. Se é verdade que os turistas vêm a Curitiba atrás da Eldorado, em que a qualidade de vida seria superior à de outras cidades brasileiras, atraídos por algumas soluções urbanísticas originais e por uma estratégia de marketing eficaz, também é verdade que em algum momento da visita eles se deparam com o nome de Poty Lazzaroto, especialmente o muralista. E nesse sentido ele passa a fazer parte do imaginário da cidade.
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Mas a estratégia do artista paranaense parece ser bem menos bélica, ou reivindicativa; ele antes devide com o poder uma imagem que o Estado possui de si. O Poty baiano, próximo de Caribé, ambos atentos à cultura negra, o Poty sertanejo, que torna ainda mais real o grande sertão de Guimarães Rosa, o Poty indigenista, que revela segredos do dia a dia dos índios brasileiros, o Poty carioca, que dá traço aos personagens de Machado de Assis, o Poty interessado na cultura maia e asteca, esse Poty diverso se afunila, em Curitiba, num Poty unívoco, narrador convencional da formação histórica do Paraná.
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O muralista antes empresta seu nome à cidade do que lhe impõe uma identidade particular, identidade que inegavelmente ele possui, e que dá vida a grande parte de sua obra, especialmente à porção gráfica dela. Mas que à força de se subordinar a essa insana necessidade local de impor uma visão paranista à cidade, ocupando todos os espaços de seu imaginário, acabou se tornando redundante, degradando inclusive a qualidade de seu traço.
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À medida que o apuro técnico no manejo do isopor - material utilizado como fôrma para a fundição do concreto - vai se aprimorando, é visível que a concepção dos painéis, com seus pequenos núcleos temáticos, vai se repetindo à exaustão. Mesmo os painéis de cerâmica sofrem deste mal, como o duplo agravante de que agora o artista simula o uso da cor e perde a vitalidade de seu traço. É difícil, por exemplo, identificar a personalíssima nervura do traço de Poty no tubo de ligeirinho do painel da travessa Nestor de Castro, fundos da Catedral Metropolitana. Quanto ao uso recente da cor, basta colocar lado a lado qualquer gravura em preto e branco e um desenho da última safra, “colorido”. A cor, em seu caso, abranda a natureza rude do traço, tirando do desenho sua feição de estrutura armada, de finos fios retorcidos, que lhe davam personalidade e um poder impressivo incomum.
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A Curitiba de Poty não possui a diversidade genial da obra do artista. Infelizmente, o empenho com que se subordina, e portando se reduz, o estético ao político, no Estado, ao mesmo tempo que deu visibilidade local ao artista, não fez senão reduzi-lo à figura do ilustrador oficial de alguns momentos históricos do Paraná. Ao contrário de Gaudí, a obra de Poty cresce em diversidade e beleza justamente quando se vê desvinculada da cidade natal.
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Texto publicado na Gazeta do Povo
quinta-feira, 24 de março de 2011
Óscar Hahn 2
quarta-feira, 23 de março de 2011
+ 2 Variações Negras
160x114cm
terça-feira, 22 de março de 2011
Figura japonesa com pinheiros
rio abaixo
r.
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em meio à correnteza
murmurantes florações de pedra
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nó de raízes na barranca
a ponta dos dedos n’água
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chifres lunares afloram à superfície
uma manada atravessa o vau
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no céu uma garça branca
gibóia no galho da secóia
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entre peixes e seixos
a líquida membrana do sol
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silêncio no topo do arvoredo
a elocução do remo rio abaixo
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do livro O caçador de vaga-lumes (1998)
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domingo, 20 de março de 2011
Redes Sociais
A hesitação, a ponderação e a delicadeza é que nos tornam mais humanos, não a redução vertiginosa das distâncias graças à tecnificação. A proximidade virtual, através da internet e das redes sociais, mais afasta do que une, porque reforça nossa interioridade, como se ela não fosse feita de fraturas, ao invés de expô-la à intempérie e ao amor do outro - o outro feito de carne, ossos e sonhos.
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quarta-feira, 16 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
Óscar Hahn
sábado, 12 de março de 2011
A casa ao pé do penhasco
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Tao-chi (1641-1717): A Man in a House beneath a Cliff |
sexta-feira, 11 de março de 2011
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Leio cada vez menos
cada vez mais devagar.
Leio como caminho,
lentamente.
Uma larva atravessando a floresta negra das letras
na intimidade úmida da terra.
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